Para Joel Cleto, “a História não cabe nos livros”. Descobriu-o enquanto estudante da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), onde completou a licenciatura e o mestrado em História (variante de Arqueologia). Aprofundou-o como historiador, arqueólogo, escritor e comunicador televisivo, facetas em que encarna a missão de “devolver à população a sua memória”. Desde o passado mês de maio, mostra-o aos participantes do Porto Lendário, um ciclo de visitas guiadas a vários locais da área metropolitana do Porto, inspiradas nas lendas que povoam o imaginário da região, que lidera a convite da U.Porto.

Portuense de gema, natural da freguesia da Vitória, onde nasceu há 47 anos, Joel Cleto dedicou-se desde cedo ao estudo e  investigação do património histórico/ arqueológico da região Norte. Ainda na licenciatura, concluída em 1987, realizou vários trabalhos práticos sobre Ramalde. Seguiu-se o Arquivo Municipal de Matosinhos, onde ajudou a criar, em 1994 (ano em que completa o mestrado na FLUP), o Gabinete Municipal de Arqueologia e História, estrutura em que desenvolve vasta investigação sobre a história e o património de Matosinhos. É, contudo na qualidade de divulgador e comunicador da história que mais se tem destacado. Autor de vários artigos e de mais de uma dezena de livros, ganhou protagonismo como autor e apresentador de uma série de programas televisivos para o Porto Canal, sobre o património da área metropolitana do Porto e da região envolvente.

Em paralelo, aquele que já é conhecido como o “José Hermano Saraiva do Norte” envolve-se regularmente na organização de eventos abertos à comunidade. Em 2011, associa-se às comemorações do Centenário da U.Porto para orientar as Visitas Guiadas pela História do Porto. Em 2012/2013, volta a colaborar com a Universidade na condução do ciclo Porto Lendário. “O mínimo que posso dizer é que [estas visitas]  me têm dado muito gozo e que a adesão ultrapassou largamente as expectativas. Desde a primeira visita até à última, em julho de 2013, todas as sessões estão esgotadas e há já uma lista de espera!”, avisa. A agenda, essa, não dá tréguas. O próximo livro – o segundo volume de “Lendas do Porto” – de Joel Cleto tem lançamento marcado para o próximo dia 1 de dezembro, no Palácio da Bolsa. No Porto, pois claro.

Naturalidade?

Sou da (ainda!) freguesia desejada por todos os portistas: Vitória… do Porto.

 Idade?

47

 – De que mais gosta na Universidade do Porto?

Dos mestres que aí tive e tenho. Dos colegas e amigos que nela fiz. Da dinâmica cultural, científica, social e demográfica que imprime à cidade .

 – De que menos gosta na Universidade do Porto?

Desde os meus tempos de estudante que abomino (chego a ficar envergonhado) com a praxe académica em relação aos caloiros.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?

Reforçar ainda mais o projeto já pensado para o quarteirão da Rua Escura e multiplicar de um modo significativo as residências universitárias no centro histórico do Porto. Tal contribuirá de um modo muito decisivo para a regeneração e requalificação urbana daquelas áreas da cidade, permitindo um convívio e uma dinâmica social muito interessante e enriquecedora. Para os novos e “velhos” residentes.

– Como prefere passar os tempos livres?

  … que, infelizmente, não são muitos. A viajar ou, pura e simplesmente, no “dolce far niente”. Recordo-me sempre da resposta que Einstein deu quando lhe perguntaram o que faria se pudesse dispor das 8 horas por dia que passou a dormir (1/3 da vida). A resposta, fantástica, foi curta: “dormir!”

 – Um livro preferido?

São tantos… Mas, porque o li recentemente e foi escrito por um autor que (já) é do Porto e se trata da sua obra de homenagem à cidade, deixo aqui a referência a “Meia-noite ou o princípio do mundo” do Richard Zimler.

– Um músico / disco preferido?

Novamente… São tantos… Tenho um gosto musical muito eclético. Que me leva muito rapidamente dos Dire Straits e dos Pink Floyd a Bach e Gershwin, passando por Sinatra, Brel, Diana Krall e Michael Buble. Sem esquecer, obviamente, os portugueses. Rui Veloso, Pedro Abrunhosa, Sérgio Godinho, Rui Reininho/GNR,  Adriano Correia de Oliveira (todos do Porto!) e os brasieiros (Chico, Elis, Milton, Simone, Caetano).. Permito-me, contudo, sublinhar o meu compositor preferido, que me acompanhou em tantas e longas noitadas de estudo: Tchaikovsky.

 – Um prato preferido?

 Prefiro o peixe à carne. Mas, curiosamente, a ter que escolher um prato fico-me por umas boas “tripas à Moda do Porto”, por um bom empadão de carne ou um bife tártaro. Mas do que gosto mesmo, mesmo, é de caldo verde.

 – Um filme preferido?

O meu top ten (do qual fazem também parte filmes como Andrei Rublev, Sunrise, Do Céu caiu uma Estrela, Asas do Desejo, Casablanca, Indiana Jones, Sexto Sentido…) é encabeçado por “Cinema Paraíso”. Já o revi múltiplas vezes e… consigo chorar sempre no final…

 – Uma viagem de sonho (realizada ou por realizar)?

Por realizar: a grande barreira de recifes de coral e a Nova Zelândia.

 – Um objetivo de vida?

Ser feliz e contribuir para a felicidade e bem estar dos outros. E tenho a sorte de acreditar que, trabalhando nas áreas da preservação e valorização da Memória e Identidade das comunidades, contribuo efectivamente para a sua qualidade de vida e felicidade.

 – Uma inspiração?

Carl Sagan. Incontornavelmente. Pela sua visão do mundo e da importância que o conhecimento e a ciência nele devem possuir. Pelo apelo e prática da interdisciplinaridade. Pela sua enorme e entusiástica capacidade de comunicar e divulgar a ciência.

 – Uma época da histórica em que gostasse de viver?

Como técnico do estudo e conhecimento do Passado, gosto muito de alicerçar a importância que ele possui nos nossos dias recordando uma velha frase de Einstein: “a distinção entre Passado, Presente e Futuro é apenas uma ilusão, ainda que teimosa”. E talvez por isso, e apesar da minha paixão pelo estudo e divulgação do Passado, a verdade é que a época histórica em que eu mais gostaria de viver é a atual. Mas, confesso, tenho também frequentemente muitas saudades do… Futuro.