João Paredes é antigo estudante da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e o líder de um projeto que promete proteger todas as passwords e dinheiro digital. Assim se apresenta o Pitbull Wallet, uma carteira que é um verdadeiro cão de guarda do mundo digital, impedindo qualquer tipo de ligação remota ao cartão do utilizador.

A caminho dos 32 anos, João inspira-se na mítica personagem de MacGyver, “o rei do desenrascanço”, bem à maneira do povo português. Aventureiro por natureza, elege as “Minas do Rei Salomão” como leitura favorita.

No que respeita a U.Porto, João Paredes acredita que tem vindo a ser feito um grande caminho de evolução em termos de interação das diferentes unidades funcionais e confessa que gostaria que houvesse uma maior reconhecimento para os estudantes que tenham já mais experiência e valências nas diferentes disciplinas.

Idade?

A caminho dos 32.

Naturalidade?

Porto

– De que mais gosta na Universidade do Porto?

Da sua multidisciplinariedade, não só ao nível de áreas de estudo, mas também ao nível de recursos, de unidades funcionais. Faz com que seja bastante completa.

– De que menos gosta na Universidade do Porto?

Acho que a Universidade do Porto está ainda um pouco verde na interação entre as várias unidades funcionais. Já foi pior, e com a evolução que tem havido, essa interação tem sido facilitada porque as ferramentas acabam por aparecer. Mas ainda assim se nota alguma redundância em algumas situações e, outras vezes, áreas que se deviam completar, acabam por não o fazer. Chegar à solução ideal vai ser um processo moroso porque nada disto aparece feito do dia para a noite. Foi um incómodo ainda não resolvido quando por lá passei, mas vejo com bons olhos a evolução que tem tido. Também me preocupa algo que não está limitado à U.Porto – o facto de que, como em qualquer outro lado, se encontre, entre tantos profissionais de excelência, alguns menos bons. Acima de tudo, uma faculdade deve servir para nos ensinar a aprender. A imparcialidade, a frieza mental, a capacidade de transmitir uma ideia – por oposição a ler monocordicamente acetatos – e o respeito pelas regras e pelos seus alunos (que são, afinal de contas, a razão da existência do seu posto de trabalho), deveriam ser valores inquestionáveis em qualquer professor. Acho que quando estes valores não se verificam num professor, é uma situação excecionalmente gravosa, pois todo este tipo de comportamentos se torna um exemplo péssimo para muitos futuros profissionais e resulta numa descendência de valores distorcidos que acabam por diminuir cada vez mais rapidamente a qualidade do nosso ensino e dos nossos futuros trabalhadores.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?

Neste campo não posso falar por toda a U.Porto porque isto talvez não se aplique a todas as suas faculdades, mas no meu caso, havia certos aspetos que tornavam até as disciplinas mais interessantes em algo desmotivante. Para alguém que, como eu, ao chegar a essas disciplinas já levava experiência e bagagem, já estava envolvido em projetos e até tinha já algum reconhecimento, ser avaliado pelos mesmos trabalhos práticos que, geralmente, tinham uma vertente prática pouco interessante e não davam uma ideia realista da sua usabilidade numa situação real, era algo doloroso. Nessas situações poderia haver a exceção para esses alunos serem avaliados por trabalhos mais interessantes. Com isto tento chegar à conclusão de que quem trabalha mais deve ser valorizado. A regência das cadeiras e dos cursos deveria ter em melhor conta quem está a investir mais de si em algo que é mais avançado, útil e até é pela própria faculdade. É preciso acarinhar as valências e o melhor que cada pessoa tem. Só assim poderemos todos ser úteis. Se deixamos escapar a vocação dos nossos estudantes, fica o país todo a perder. E se eles não desistirem totalmente, aquilo que eles não ficarem cá no País a construir, irão construir lá fora quando, por esta e outras razões, decidirem emigrar.

– Como prefere passar os tempos livres?

Fale-me desse conceito. Parece ser interessante, talvez devesse explorá-lo.

– Um livro preferido?

As Minas de Salomão, de Rider Haggard. Faz sempre falta um pouco de aventura na vida de qualquer um.

– Um músico / disco preferido?

O primeiro que me vem à cabeça é “The Violin Player”, de Vanessa Mae, um excelente álbum para música de fundo quando se está a programar. Mas sou bastante variado musicalmente. Na minha playlist chego a ter Pavarotti seguido de AC/DC e Debussy seguido de Guns’n’Roses. Mas não tenho música pimba.

– Um prato preferido?

Com a minha forma, ninguém diria, mas sou um comedor de igualdade de oportunidades. Se é de comer, é bem-vindo. 🙂

– Um filme preferido?

Difícil responder. Não tenho um específico a que recorra, mas sinto-me particularmente atraído pelos de ficção científica, que consegue trazer muita inspiração e porque tecnologia é a minha vida. Quanto mais credível for a ficção científica aplicada, melhor. A mim dá-me mais por onde sonhar.

– Uma viagem de sonho (realizada ou por realizar)?

Polo Sul. Definitivamente o gelo é o meu ambiente.

– Um objetivo de vida?

Levar o Instituto Onda Technology mais longe e poder dar vida a todos os projetos presentes e planeados, que são tecnologicamente deliciosos.

– Uma inspiração?

Às vezes não é a realidade que nos ensina, mas a ficção. Por isso diria o Angus MacGyver, que deveria ser Português por ser o rei do desenrascanço, de fazer limonada com os limões que a vida nos dá e de jogar com a mão que nos é dada. Nem sempre podemos atingir imediatamente a solução perfeita, mas com perseverança, mente fria e inteligência, basta o pouco que temos à volta para fazermos milagres. Quem me conhece sabe que sou o exacto oposto de “soluções de pensos rápidos” e que sou draconiano na filosofia de que se é para fazer algo, que seja bem feito desde o início, mas a vida real é implacável e faz-nos cair em situações em que nos limitam. Nessas alturas é quando mais temos que nos elevar e quando não temos as ferramentas que precisamos, ou usamos as que temos ou fazemo-las.

– Uma mensagem que gostasse de enviar à comunidade U.Porto?

Tentem aprender com os erros dos outros antes de cometerem os vossos, mas se cometerem os vossos aprendam com eles. Quando não há experiência passada a partir da qual aprender, é a arriscar e errar que mais se aprende. Quando se faz algo bem à primeira, apenas se descobre uma forma que funcionou e que pode nem ser a melhor. Quando se comete erros e finalmente se percebe como os resolver, descobre-se porque não funcionou, como deve funcionar e qual a melhor forma de funcionar. O “não” é sempre garantido. Por isso não deixem de arriscar por medo de errar ou de falhar. Se arriscarem podem conseguir ou não, mas nada se perde. Se não arriscarem, definitivamente não conseguem.

– Um sonho para a PitBull Wallet? 

Que continue a evoluir e a apresentar novas gerações cada vez melhores, mas que não o faça sozinha. Que possa ser acompanhada de muitos outros e úteis produtos novos.