Há quem o trate por João Costa Leite e quem só o conheça como João Páris. É um dos mais ecléticos investigadores do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, um verdadeiro “homem dos sete ofícios”. Além de cientista, é também empresário agrícola, músico e compositor. Não gosta de rótulos e acima de tudo é um investigador resiliente e flexível, com um espírito curioso, criativo e empreendedor. Em criança, pensou que seria médico, tal como os avós. E estava bem encaminhado. Foi um excelente aluno, aliando a escola com o desporto, em particular com a natação. A veia artística surgiu na adolescência. Começou a escrever aos 13 anos e já publicou um livro de poesia. A música conquistou-aos 17 anos, como forma de “expressão genuína da sua voz interior”. Aos 18 anos, fez sozinho um interrail, com passagem por Dublin. Sempre quis conhecer a cidade de James Joyce e Oscar Wilde. Regressou à Irlanda para o estágio de licenciatura em Nutrição e Saúde Pública. Aos fins de semana, era pianista num dos mais famosos cafés da cidade.

Terminou a licenciatura em Ciências da Nutrição pela Faculdade de Ciências da Nutrição e da Universidade do Porto em 2007 e rumou novamente à Irlanda, onde viveu durante cinco anos. A intenção era dedicar-se à música – chegou a ter uma banda –, mas acabou por assumir uma posição como investigador assistente e fazer o doutoramento em Nutrição Humana e Investigação Clínica pela University College Dublin, com um estudo sobre estratégias de atividade física para melhoria da saúde metabólica em idosos. Em 2013, foi o encerramento de mais um ciclo. Despediu-se da sua banda e da sua vida na Irlanda para conhecer a América do Sul. Foi “a viagem de uma vida”.

De regresso a Portugal, ingressou no CINTESIS através do IoGeneration, um projeto financiado pelos EEA Grants dedicado à avaliação dos níveis de iodo em crianças e jovens das escolas portuguesas. Mantém-se como colaborador do grupo de investigação ProNutri, integrado na Linha Temática de Medicina Preventiva & Desafios Societais, liderada por Conceição Calhau. A investigação não o impede de levar para a frente a sua atividade como empresário agrícola, numa empresa do norte de Portugal pertencente à família, de seu nome Vale do Sátão (Viseu). Entre o laboratório e a terra, ainda lhe sobra arte e engenho para compor e tocar piano. Em 2016, lançou Journeys, o seu primeiro álbum de originais, fruto das suas vivências multiculturais e no ano passado participou no concurso do Festival da Canção.

Em dezembro de 2017, rumou a Ispra, no noroeste de Itália, para um estágio como gestor científico na Comissão Europeia, no Joint Research Centre (JRC), na área da Nutrição em Saúde Pública. O JRC tem como missão dar suporte às políticas europeias através de aconselhamento científico e técnico baseado na evidência. Regressou em junho com uma nova bagagem e com novos projetos na manga.

Naturalidade? Porto

Idade? 34 anos.

De que mais gosta na Universidade do Porto?

A dimensão da Universidade do Porto possibilita a concentração de energias no desenvolvimento das atividades de transferência e produção de conhecimento com mais qualidade.

De que menos gosta na Universidade do Porto?

Falta de uma estrutura de suporte mais eficiente, ágil  e com menos obstáculos que alimente um espírito mais dinâmico e pró-ativo na comunidade.

Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?

Uma visão e estratégia que valorize e promova um ambiente de colaboração interdisciplinar permite alavancar recursos existentes na Universidade do Porto incentivando a produção de sinergias que a tornem mais competitiva.

Como prefere passar os tempos livres?

Os meus tempos livres sempre foram um pouco preenchidos com “projetos de vida”. Atualmente, divido-me entre os meus projetos na música e agricultura, procurando incluir tempo para o desporto e reuniões de amigos. É uma questão de gestão de tempo fazermos aquilo que é importante.

Um livro preferido?

Os clássicos da literatura sempre me revelaram algo de especial e O “Retrato do artista quando jovem” de James Joyce foi um dos livros que mais me marcou. Influenciou muitas decisões que tomei na minha vida.

Um disco/músico preferido?

A discografia completa dos The Doors.

Um prato preferido?

A simplicidade da cozinha italiana com os melhores ingredientes. Seguindo os mandamentos de bons amigos: “É proibido ananás na piza”.

Um filme preferido?

No meio de tantos, destaco e recomendo aqui o “The Legend of 1900”, que talvez poucos conheçam.

Uma viagem de sonho?

Obviamente várias. Uma travessia até aos Tibete, explorando os Himalaias e Mongólia.

Um objetivo de vida?

Desafiar os limites, conhecer e inspirar.

Uma inspiração?

Uma viagem onde aprenda e me inspire: América do Sul.