A frequentar o Mestrado em Recursos Biológicos Aquáticos da FCUP, João Carecho está a desenvolver o seu projeto no CIIMAR. (Foto: DR)

Até ao dia em que rumou ao Porto para ingressar no curso de Ciências do Meio Aquático no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto (ICBAS), João Carecho viveu numa aldeia em Coimbra, rodeado de uma família devota à agricultura e do amor à natureza que herdou desde cedo da mãe bióloga. “Sempre interagi muito com a natureza e desenvolvi um carinho especial que ainda hoje mantenho”, relembra.

Foi pelos 13 anos de idade, quando recebeu como presente o seu primeiro aquário, que o fascínio pelo meio aquático ocupou toda a vida de João… e todo o espaço no seu quarto: “cheguei a não ter espaço para mais nada no meu quarto e tornava-se impossível dormir nele, pelo barulho que as bombas faziam, tal era a quantidade de aquários que mantinha.”

Aos 18 anos faz um curso de mergulho que o submerge definitivamente na evidência de que queria muito estudar Biologia Marinha. Ingressa no curso Ciências do Meio Aquático no ICBAS e, desde então, tem-se focado cada vez mais nesta área, tanto académica como profissionalmente. Em função disso, desde cedo que complementou o curso na Universidade do Porto com outras formações extracurriculares como a condução de embarcações ou o curso de nadador salvador entre outras experiências enriquecedoras como embarcar no Navio da Marinha Portuguesa “Creoula” pela Universidade Itinerante do Mar.

Atualmente, frequenta o Mestrado em Recursos Biológicos Aquáticos (FCUP), e desenvolve a sua tese na equipa Bioremediation and Ecosystems Functioning (ECOBIOTEC) do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto (CIIMAR-UP), mais propriamente no estudo de ilhas flutuantes de plantas para tratamento de água, trabalhando pontualmente como animador científico da Science4You.

E a sua personalidade pró-ativa já se fez notar quando, recentemente, João foi notícia por ter vencido o concurso Idea Challenge Portugal 2019. que lhe permitiu pôr em prática o AQUAFLOWS, um projeto que pretende consciencializar os mais jovens para questões ambientais ligadas aos ecossistemas de água doce e ao modo como estes são afetados pelas mudanças climáticas.

– Naturalidade? Coimbra

– Idade? 24

– O que mais gosta na Universidade do Porto?

A Universidade do Porto é sinónimo de inovação e desenvolvimento. Desde o primeiro contacto que tive com a comunidade académica que me senti em casa e tem vindo a ser um orgulho, sempre crescente, pertencer a esta grande instituição. O facto de pertencer a uma cidade tão emblemática é também um fator de peso.

– O que menos gosta na Universidade do Porto?

Não é propriamente um defeito da Universidade do Porto, mas seria uma mais valia se os estudantes pudessem residir mais próximo das faculdades. Como estudante deslocado e alojado perto da faculdade, senti falta de estar mais tempo com os meus colegas que depois das aulas tinham de regressar a casa mais cedo. Considero o convívio muito importante.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?

Já existe uma grande aposta por parte da Universidade em criar eventos gerais que aproximem os alunos das diferentes faculdades, mas podiam existir mais e englobando mais instituições de ensino superior do Porto – a cidade tem excelentes espaços para proporcionar esses encontros.

– Como prefere passar os tempos livres?

Gosto de aproveitar o tempo livre para as minhas pesquisas, para desenhar e assistir a filmes ou séries até à exaustão. Com mais tempo, adoro viajar e deixar tudo registado em vídeo ou mergulhar que é algo que, infelizmente, já não faço há muito tempo, mas que me deixa sempre feliz e realizado.

– Um livro preferido?

“A Saga de Um Pensador” de Augusto Cury.

– Um disco/músico preferido?

António Variações, pela irreverência e intemporalidade.

– Um prato preferido?

É muito difícil definir um só, mas tudo o que seja tipicamente português e, ainda melhor, se for feito de forma caseira.

– Um filme preferido?

“Gran Torino” do soberbo Clint Eastwood.

– Uma viagem de sonho?

Austrália por causa da incrível biodiversidade marinha. Tenho o sonho de visitar e poder mergulhar na Grande Barreira de Coral.

– Um objetivo de vida?

Pode parecer clichê, mas o maior objetivo é mesmo aquele de poder trabalhar naquilo que amo fazer – estar associado à Ciência e contribuir para o seu desenvolvimento.

– Uma inspiração?

Acho que não existe uma só fonte de inspiração e que acabo por me sentir uma esponja a tentar absorver um pouco de tudo: as vivências e os constantes desafios, o meio envolvente e as pessoas. Devoro séries e filmes biográficos pois gosto de conhecer histórias de vida, de ser surpreendido pelas mesmas.

– O projeto da tua vida.

Tento não viver de “olhos postos no futuro” (embora seja um desafio) mas vai de encontro ao objetivo de vida. Todos os dias tento seguir o lema baseado em “põe quanto és no mínimo que fazes” e acredito que dará frutos. Espero deixar a minha marca na Ciência, por mais pequena que seja, e assegurar que as gerações vindouras desfrutem tanto deste Planeta quanto eu.

– Depois de venceres o prémio Idea Challenge Portugal, que importância atribuis à comunicação da ciência para o público?

Considero a comunicação uma das partes mais importantes da investigação científica pois é dar um propósito maior a todo o investimento e esforço envolvido. Através desta transferência de conhecimento evoluímos enquanto sociedade e, nesse sentido, acho que devia haver um esforço maior, dentro da comunidade científica, para conduzir a ciência a todos. Acho, particularmente, interessante sensibilizar os mais novos pois retêm bem a informação, quando comunicada com a linguagem adequada, e influenciam os mais velhos para as boas práticas.