Talvez com receio d’‘As Intermitências da Morte’, Ivo Reis já tem muito para contar aos 25 anos. As afinidades com José Saramago vão, contudo, para além do espaço especial que lhe reserva na biblioteca. Recém-licenciado em Biologia pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), Ivo também sonha com o Prémio Nobel. Já esteve mais longe. No próximo mês de junho, vai representar Portugal e a Universidade na XII Edição do Programa Jovens Líderes Iberoamericanos (PJLI), iniciativa que visa promover a cooperação entre jovens que se destaquem dentro do espaço Iberoamericano.

Foi em 2008 que uma “Jangada de Pedra” trouxe Ivo Reis de Espinho até à U.Porto para frequentar a licenciatura em Biologia da FCUP, “na altura trabalhando em paralelo aos fins-de-semana, feriados e férias”. Ainda assim, sobra tempo para descobrir novas vocações, que vai pondo à prova através da frequência de cursos de Línguas na Faculdade de Letras e de cadeiras opcionais em áreas como a ‘Gestão e Empreendedorismo’ ou ‘Técnicas de Gestão de Espaços Verdes’, com direito a um estágio no CIBIO-Div que lhe valeu  uma menção honrosa nos prémios Casa das Ciências 2012. Em paralelo, descobre também a vida associativa, que não mais largará. Membro da Associação de Estudantes da FCUP desde 2010, foi presidente da AEFCUP entre 2011 e 2013. Pelo caminho, ajudou a criar os alicerces da Sociedade de Debates da U. Porto, da qual foi Vice-Presidente, é membro do Conselho Coordenador para o Modelo Educativo da U.Porto e representa, desde outubro de 2013, os estudantes da U.Porto junto do Senado da Universidade.

Com este percurso, não estranha a escolha de Ivo, de entre centenas de candidatos, para estar presente na edição 2014 do PJLI, a ter lugar entre Madrid, Santiago de Compostela e Bruxelas, de 15 a 28 de junho. Por nós, já levou o Nobel: “É um misto de orgulho e profunda gratidão (por maior chavão que isto possa parecer). Se não fosse o excelente ambiente que se vive na Instituição, e as pessoas extraordinárias que conheci, não poderia ser o que sou, nem fazer o que fiz. Tenho pena que muitos amigos, colegas de equipa e de circunstância, que se esforçaram e esforçam diariamente em estruturas diversas, pelos mais distintos motivos e apesar de divergências muitas com alguns deles, não tenham uma oportunidade semelhante – conheci líderes extraordinários na Academia do Porto (e alguns fora dela), com os quais obviamente aprendi, espero fazer-lhes justiça”.

Naturalidade?

Espinho.

Idade?

25 anos.

– De que mais gosta na Universidade do Porto?

Do ambiente dinâmico e multidisciplinar – comentei isto várias vezes e com várias pessoas, nos últimos tempos. Há uma riqueza cultural, pedagógica, cívica e humana extraordinária, na U. Porto, e na maioria das suas Unidades Orgânicas (inclusivamente na Faculdade de Ciências). Basta estar-se minimamente atento para reparar que há sempre algo interessante a acontecer à nossa volta, ou algo enriquecedor no qual participar.

– De que menos gosta na Universidade do Porto?

Há alguns pontos negativos (como em tudo na vida), mas o que mais me aborrece é provavelmente o Sigarra e as complicações que dele advêm – acho impensável tentar-se aplicar um Sistema de Informação criado para uma gestão muito verticalizada, muito ‘departamentada’, em UO’s com uma gestão mais horizontal, onde apesar de existirem departamentos, há partilha de unidades curriculares, de docentes, etc.. Admito, no entanto, que sou um leigo nesta questão e que posso estar a dizer a maior barbaridade – mas uma coisa é certa, este SI trouxe complicações imensas, para estudantes, docentes e funcionários.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?

Acredito que a Universidade do Porto, a par da Academia onde se insere (e o próprio país), tem ainda um longo caminho a percorrer, ao nível dos seus múltiplos organismos, no sedimentar dos pilares do respeito pela autonomia, equidade e liberdade (nas suas várias vertentes). Acredito na necessidade de se criarem mecanismos de representação mais proporcionais face às bases da U. Porto: mecanismos que correspondam à estrutura orgânica da universidade (por exemplo, metade dos membros do Conselho Geral, atualmente, são provenientes apenas de duas grandes áreas científicas [das 13 grandes áreas existentes!], sendo que na outra metade se incluem, ainda, os membros externos), mecanismos que valorizem a representatividade do corpo estudantil, e que aproximem, também, diretamente a estrutura associativa da Reitoria.

– Como prefere passar os tempos livres? 

Por um lado adoro estar em casa (sobretudo a ler), por outro adoro viajar (quando o orçamento o permite).

– Um livro preferido? 

É-me impossível reduzir a um, pelo menos três: ‘As Intermitências da Morte’, de José Saramago, ‘O Senhor dos Anéis’, de J.R.R. Tolkien e ‘Shalimar o Palhaço’, de Salman Rushdie.

– Um disco/músico preferido? 

Quase só ouço bandas sonoras – gosto imenso de: Armand Amar, Howard Shore, Danny Elfman, Clint Mansell, etc..

– Um prato preferido? 

Sushi, mas não dispenso uma boa francesinha ou um bom peixe grelhado com molho verde, broa, cebolada e batata cozida – à boa moda portuguesa.

– Um filme preferido? 

(É-me impossível reduzir a um, pelo menos três:) ‘O Senhor dos Anéis’, ‘Das Leben der Anderen’ e ‘Amigos Improváveis’.

– Uma viagem de sonho?

Nova Zelândia (por realizar).

– Um objetivo de vida? 

Receber um Nobel da Paz.

– Uma inspiração? (pessoa, livro, situação…) 

José Saramago.

– Uma ideia para promover a Universidade a nível internacional?

Assim de repente, estabelecer uma rede de Embaixadores U. Porto, que organizassem palestras interativas em escolas do ensino ‘pré-universitário’ à escala global. Sem esquecer a interessantíssima projeção internacional que já vamos tendo, também graças aos Rankings (apesar de não concordar plenamente com eles, e preferir um sistema de Ratings). No passado mês de março, numa reunião do Senado da Universidade, foi feita uma apresentação do Relatório de Atividades, onde constava um slide com as variações desta Instituição nos Rankings Internacionais. Na altura, um dos diretores das UOs (curiosamente, o da minha Faculdade), mencionou que através de uma análise mais cuidada dos indicadores dos rankings, salta à vista o facto de a Universidade do Porto estar acima na maioria destes mesmos indicadores em relação às 100 Universidades à sua frente, pecando somente em dois ou três, relacionados, sobretudo, com verbas para contratação e investimento – parece-me, por isso, que urge pressionar o Governo para que, por um lado, liberte definitivamente as receitas próprias das IES e, por outro, que cumpra o seu papel (destacadamente) no financiamento tripartido do ensino de nível superior, enquanto atenua as regras de contratação – isto poderia, porventura, promover a U. Porto muito mais que qualquer ideia criativa.