Natural de uma pequena aldeia do concelho da Póvoa de Varzim, Argivai, onde passou toda a infância em liberdade, a brincar na rua e nos campos, Isabel Cardoso retém na memória imagens de felicidade em família (é a segunda de sete filhos), a sua «fantástica» professora da primária, a D. Fátima, as viagens de mota e a prática de atletismo e de futebol nas equipas da aldeia durante a adolescência. Tem igualmente muito orgulho de ter integrado o Grupo Folclórico de Argivai desde os 12 anos até ao 1.º ano da faculdade. Pelo meio veio a paixão pelo biologia, já no secundário, quando se começou a falar de hereditariedade.

Uma visita ao Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) da Universidade do Porto e uma conversa com o Prof. Pedro Moradas-Ferreira, no final do secundário, foram determinantes na escolha do curso de Bioquímica. No último ano da faculdade, a prioridade era realizar o trabalho de fim de curso no grupo da Profª Maria João Saraiva, em paramiloidose, mas como nesse ano não abriram estágios nesse laboratório, optou por fazer um estágio Erasmus de seis meses na Dinamarca. Quando regressou, Isabel viu no ICBAS um anúncio de um projeto sobre paramiloidose e assim se juntou ao grupo de Maria João Saraiva, onde desenvolveu o doutoramento, na área da paramiloidose. Mais tarde, interessou-se pelas alterações que ocorrem no cérebro, como consequência do desenvolvimento da Doença de Alzheimer.

Atualmente, esta investigadora do i3s – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da U.Porto dedica-se a estudar a ação neuroprotetora da proteina Transtirretina no cérebro e na Doença de Alzheimer e o efeito de vários compostos terapêuticos, o que lhe valeu recentemente a atribuição de um apoio da Fundação Millennium bcp, no valor de 37,5 mil euros.

Naturalidade? Argivai, Póvoa de Varzim

Idade? 46 anos

– De que mais gosta na Universidade do Porto?

Das pessoas, daquelas que conheço e com quem privo, mas também daquelas que não conheço pessoalmente, mas que vou conhecendo através do trabalho que fazem. Algumas acabo por conhecer mais cedo ou mais tarde, dentro ou fora da universidade. São pessoas que me inspiram e que me têm ajudado a ser melhor, a nível profissional, mas também como pessoa.

– De que menos gosta na Universidade do Porto?

A análise que por vezes é feita, olhando demasiado a números e pouco às pessoas que constituem esses números.

 – Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?

Apostar nalguma renovação, que é necessária. Promover a interação entre as várias faculdades; ainda há espaço para nos conhecermos melhor e encontrarmos afinidades, promovendo a interdisciplinaridade. Já existe um “Dia da Universidade do Porto”, que atualmente integra também a “Mostra de Ciência, Ensino e Inovação da Universidade do Porto”. Este último mais virado para o grande público, sobretudo os estudantes. Não faria sentido termos algo semelhante, noutros moldes naturamente, inter-Faculdades, onde pudessemos re-descobrir a Universidade do Porto?

– Como prefere passar os tempos livres?

Com os meus filhos. Ir ao cinema. Adoro caminhar, não só em ambiente “natureza”, mas também na cidade, à descoberta nas ruas do Porto.

 – Um livro preferido?

Vários da Isabel Allende, mais recentemente “O Amante Japonês”.

– Um disco/músico preferido?

Um disco – “Quelqu’un m’a dit”, de Carla Bruni. Todos os temas são muito bonitos, foi uma surpresa na altura. O disco, que inclui o tema “Raphael”, foi-me dado a conhecer quando estava grávida do filho mais velho, Rafael, pelo pai. O nome já estava escolhido e, por isso, o disco tornou-se ainda mais especial.

(Tenho 2 rapazes, o Rafael e o Miguel)

– Um prato preferido?

Bacalhau com natas, feito por mim.

– Um filme preferido?

“In the mood for love”, de Kar-Wai Wong. Um filme muito bonito com fotografia fantástica.

– Uma viagem de sonho? 

Realizada – ao Japão, este ano, pela oportunidade de sentir uma cultura verdadeiramente diferente da Europeia e de tudo o que já tinha visto.

Por realizar- À Austrália ou Nova Zelândia, pela paisagem, mas sobretudo pelo que imagino sobre as pessoas desses países.

– Um objetivo de vida?

Conseguir ter o sentimento de ter contribuído positivamente para a vida de alguém, com o meu trabalho. Não é necessariamente uma contribuição científica de renome internacional; quando um estudante me diz que escolheu este ou aquele curso porque adorou a semana que passou connosco no laboratório, enquanto ainda andava no secundário, e que isso o marcou positivamente, sinto que estou a fazer bem o meu trabalho. A formação também faz parte das minhas funções e levo isso muito a sério.

Claro que marcar a diferença no campo de investigação científica em que actuo, seria especial, até porque provavelmente significaria que toquei muitas pessoas, mas não é o que me move no meu dia a dia.

Ter este sentimento, o de tocar positivamente na vida de outra pessoa, noutra qualquer esfera da minha vida é igualmente importante para mim e igualmente capaz de me realizar

– Uma inspiração? (pessoa, livro, situação…)

A minha mãe, não podia deixar de ser, por tanto (e tantos filhos) que conseguiu criar, a partir de tão pouco.

– O projeto da sua vida…

Conseguir manter-me motivada e entusiasmada com a vida. Melhorar e conseguir desafiar-me. Não quero chegar ao fim e sentir que me acomodei. Não quero ter arrependimentos. Mas quero também ter a capacidade de valorizar as pequenas conquistas.

– Uma ideia para promover a investigação da U.Porto a nível internacional?

A Universidade do Porto tem já uma projeção internacional considerável, através de vários programas em que participa. Esta internacionalização é mais patente em algumas áreas/Faculdades do que noutras.

A investigação da U. Porto a nível internacional já é feita e a sua promoção deverá começar por uma maior valorização dentro da própria Instituição. Temos investigadores de alto nível, reconhecidos internacionalmente, que devem ser também reconhecidos pela U. Porto, para que a associação possa ser definitivamente feita.