Genova, Itália, 2010. Irene Gullo, à data estudante de Medicina, procurava uma experiência no estrangeiro ao abrigo do programa Erasmus. A pesquisa levou-a à Universidade do Porto e ao nome de Fátima Carneiro, professora da Faculdade Medicina (FMUP). “Quando comecei o curso, não sabia que a anatomia patológica existia, mas na primeira aula disse à minha melhor amiga, que estava ao meu lado, que era aquilo que queria fazer. Ela disse que eu era louca, mas já estava decidido. Todos os meus professores me diziam que a Professora Fátima era uma patologista incrível e que se queria trabalhar nessa área, tinha de a conhecer”, conta. A escolha estava feita e em setembro do mesmo ano chegou ao Porto.

Ainda que a reputação de Fátima Carneiro – eleita em 2018 como patologista mais influente do mundo – tenha pesado na escolha do Porto e da Universidade, só sete meses depois, em abril, é que Irene ganhou coragem para entrar e apresentar-se. “Tive vergonha! O que é que uma italiana que nem falava português ia dizer?”, explica entre risos. Mas em pouco tempo, juntamente com dois colegas da FMUP, começou a colaborar num projeto de investigação coordenado por aquela que viria a tornar-se a sua orientadora de doutoramento.

Irene Grullo com Fátima Carneiro. (Foto: FMUP)

Terminada a experiência Erasmus, Irene regressa a Itália para finalizar o curso de medicina com 110 cum laude – nota máxima do sistema de avaliação italiano – e uma medalha de distinção, destinada aos melhores alunos do curso. À distância, continuou a trabalhar com um grupo de investigação da FMUP, que culminou na publicação de um artigo científico. Surge então o desafio: voltar a Portugal para frequentar, em simultâneo, o doutoramento em Medicina da FMUP e a formação específica em Anatomia Patológica no CHSJ – ambos orientados por Fátima Carneiro.

Entre estágios e projetos de investigação, o regresso a Portugal permitiu a Irene mergulhar fundo no mundo da anatomia patológica e conhecer vários especialistas de renome internacional. “Este ano vou à Nova Zelândia a um encontro de especialistas na área do carcinoma gástrico, um dos temas de estudo do meu doutoramento.”

Prestes a terminar o doutoramento e a um ano e meio de finalizar a formação da especialidade, Irene ainda não sabe do futuro, mas gostava de continuar a conciliar o mundo académico e a atividade de diagnóstico. “Acho que são vertentes que deviam funcionar sempre em simultâneo, para que cresça o conhecimento científico e, assim, se melhore a capacidade de diagnóstico. Gosto mesmo muito de contactar com alunos, são realidades muito diferentes, ter de adaptar o discurso faz com que se tenha de pensar nas coisas e nisto acabo por também aprender com eles. Gostava de continuar a fazer tudo”.

Naturalidade? Genova, Itália

Idade? 30 anos

– De que mais gosta na Universidade do Porto?

Do ambiente acolhedor e internacional; do respeito das tradições, aparentemente contraditório (fascinante!) … agora que já terminei a faculdade, gosto do espírito jovem dos alunos de medicina com os quais trabalhei e estou a trabalhar, do que transmitem e do que ensinam, cada dia que estou com eles.

– De que menos gosta na Universidade do Porto?

Da burocracia.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto? 

Inserir professores novos e dinâmicos na Faculdade, abrindo novas possibilidades para a carreira académica, que atualmente parece-me bastante estagnada.

Acrescentar métodos de ensino alternativos, às aulas tradicionais teóricas ou práticas, e deixar (obviamente durante um número limitado de horas!), os professores e os alunos escolher livremente sobre o que ensinar e a aprender. Como estudante em Itália adorava ter estas sessões, e adorávamos inventar com os professores aulas direccionadas para os nossos interesses.

– Como prefere passar os tempos livres?

Cozinhar e inventar novas receitas. Divertir-me com as minhas amigas.

– Um livro preferido?

Vários livros em vários momentos da vida, até agora. Queria aconselhar um livro, para as pessoas que ainda não gostam de ler: “Comme un roman”, Daniel Pennac.

– Um disco/músico preferido?

Gosto de todos os géneros musicais… mesmo. Cada um se adapta a diferentes “estados de ânimo”. O que gosto sempre de ouvir é música clássica.

 – Um prato preferido?

Pansotti al sugo di noci!

– Um filme preferido?

Barry Lindon.

– Uma viagem de sonho? 

Nova Zelândia, Março 2019.

– Um objetivo de vida?

Ser uma excelente patologista, sempre com a ajuda paralela da investigação, mas acima de tudo ser uma boa mãe, e espero de chegar perto ao que a minha mãe e o meu pai foram para mim.

– Uma inspiração? (pessoa, livro, situação…)

Rita Levi Montalcini.