“A vida já me deu mais do que eu alguma vez pensei ter. O grande projeto será ter forças para continuar a enfrentar o dia-a-dia e a desenvolver os imensos projetos de investigação que ainda tenho na gaveta”, diz Beatriz Oliveira

Ligada há mais de 40 anos à Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto (FFUP), Beatriz Oliveira vai buscar aos alimentos a sua “matéria-prima”. É assim desde 1982, ano em que a então finalista do curso de Ciências Farmacêuticas foi convidada para colaborar com a Faculdade como monitora. Começava aí uma paixão que se mantém até aos dias de hoje na vida desta professora e investigadora da FFUP na área da Bromatologia/Ciência dos Alimentos.

Diretora do Mestrado em Controlo de Qualidade da FFUP, lidera atualmente vários grupos de investigação que, através de métodos sustentáveis, têm trabalhado na valorização dos alimentos. Um dos mais recentes – SOILIFE – conquistou a distinção Born From Knowledge (BfK) Awards, bem como o primeiro lugar na categoria Produção e Transformação do Prémio Empreendedorismo e Inovação Crédito Agrícola 2018. Com base num processo sustentável, o SOILIFE deu origem a um processo sustentável e de baixo custo para reduzir a fitoxicidade do bagaço de azeitona, recuperar compostos bioativos. Para além da sua aplicação no domínio da agricultura, o projeto permitirá ainda acrescentar valor ao mercado das indústrias alimentar e cosmética.

O trabalho de Beatriz Oliveira tem também chegado ao mundo empresarial e, consequência disso, está a trabalhar na preparação de uma patente. Destaca-se, neste âmbito, um projeto em co-promoção, que via implementar, a nível industrial, a valorização de um subproduto do café e a sua aplicação na produção do mesmo, melhorando o teor de compostos bioativos e e de cafeína.

Beatriz Oliveira é casada há 35 anos e tem dois filhos, também eles alumni da U.Porto.

Naturalidade? Luanda, Angola

Idade? 58 anos

– O que mais gosta na Universidade do Porto?

Ser a maior universidade do país e poder trabalhar nesta importante instituição e ajudar ao seu crescimento e renome a nível europeu e mundial.

– O que menos gosta na Universidade do Porto?

A pouca valorização do trabalho de alguns e as dificuldades que são colocadas para fazer qualquer coisa.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?

Facilitar a vida a quem quer trabalhar.

– Como prefere passar os tempos livres?

A ler um livro não científico num local calmo, ao sol. Geralmente, as minhas leituras são científicas ou relacionadas com trabalho, mesmo nos tempos considerados livres. Gosto muito também de dar caminhadas com os meus filhos em Trás-Os-Montes, mas infelizmente são cada vez mais difíceis de fazer dadas as agendas complicadas que temos.

– Um livro preferido?

Adoro ler, mas apenas nas férias consigo fazer isso. Gosto da escrita do José Rodrigues dos Santos que mistura história com ficção, caso do Vaticanum, o homem de Constantinopla, um milionário em Lisboa.  Adorei ler O gigante enterrado, do Prémio Nobel da literatura de 2017 Kazuo Ishiguro.

– Um disco/músico preferido?

Adoro música e frequentemente ando a cantarolar. Só posso ouvir no carro ou em momentos de pausa, pois não consigo trabalhar. Talvez os Coldplay e os Queen sejam as bandas da minha preferência.

– Um prato preferido?

Os alimentos são a minha matéria-prima de investigação. Como tal adoro comer, tal como adoro investigar. Um arroz de cabidela ou rancho à Transmontana talvez sejam pratos de que gosto especialmente.

– Um filme preferido?

Prefiro um livro na mão numa zona verde e com sol, a uma sala de cinema escura e fechada. Gosto de comédias porque se for um filme triste saio com os olhos vermelhos (de chorar). Vi alguns filmes do Cantinflas, filmes com o Anthony Quinn (Lawrence da Arábia; Zorba, o grego) e Música no Coração (quem não viu????).

– Uma viagem de sonho?

Uma viagem à Rússia monumental, Moscovo e São Petersburgo.

– Um objetivo de vida?

Trabalhar enquanto tiver saúde para o fazer com o meu grupo de investigação, com empenho e paixão.

– Uma inspiração? (pessoa, situação, livro, …)

Não sei como dizer, mas a vida, os problemas e a sua solução, são a minha grande inspiração e força para continuar a lutar.

– O projeto da sua vida

A vida já me deu mais do que eu alguma vez pensei ter. O grande projeto será ter forças para continuar a enfrentar o dia-a-dia e a desenvolver os imensos projetos de investigação que ainda tenho na gaveta. Talvez uma neta fosse uma grande prenda e um novo projeto na minha vida.

– Uma ideia para posicionar a investigação da U.Porto junto das melhores do mundo?

Trabalho, trabalho e mais trabalho. Colaboração em vez de competição selvagem. Na minha área a U.Porto já estamos junto dos melhores, ocupando a  12.ª posição no Ranking de Xangai na disciplina Ciência e processamento de alimentos, sendo a FFUP a faculdade com mais publicações (mais de 50%).