Ana Xavier Carvalho (Pessoa)Foi o amor pela experimentação levou Ana Xavier Carvalho a perseguir uma carreira na investigação científica. Tanto que, não havendo filhos ou um prato de cabrito assado por perto,  o mais certo é encontrá-la nos microscópios do Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC) da Universidade do Porto, à descoberta dos segredos da divisão celular, trabalho que lhe valeu, em dezembro passado, a atribuição de uma ERC Starting Grant, uma da maiores bolsas de investigação a nível europeu.

Mas antes de multiplicarmos esta história por 1.5 milhões de euros, recuamos até 1999, ano em que a então recém-licenciada em Bioquímica pela Faculdade de Ciências da U.Porto (FCUP) entrava no Programa Graduado em Áreas da Biologia Básica e Aplicada (GABBA) com a ânsia “de aprender sobre uma enorme variedade de temas científicos antes de ter que escolher aquele que ela queria seguir mesmo”. Viria  a encontrar tudo isso no mais antigo programa doutoral da U.Porto, mas também a possibilidade “de ouvir grandes cientistas falarem sobre  investigação de excelência, bem como a oportunidade que o programa lhe deu para visitar laboratórios no estrangeiro”.

E foi lá fora, na Universidade de Edimburgo que  a investigadora fez grande parte da tese que doutoramento que defendeu em 2005 e na qual explorou questões da biologia Celular. Passou, posteriormente, por um pós-doutoramento no Instituto Ludwig de investigação em Cancro (San Diego, EUA) e regressou, recentemente, a Portugal, para constituir um Grupo no IBMC. Segundo diz, sempre foi sua vontade retornar a Portugal, fazer investigação no seu país de origem e estar mais perto da família

Atualmente, Ana tem um contracto Investigador FCT, e uma equipa que usa um nemátodo, o Caenorhabditis elegans, para estudar a divisão das células, em particular a última fase, denominada citocinese. O trabalho acabaria por chamar a atenção do European Research Council (ERC), que não hesitou na hora de incluí-la no firmamento das novas estrelas da investigação europeia. Agora tem cinco anos para aplicar esse capital e provar que as suas ideias podem desenhar o futuro da Ciência.

Naturalidade?

Porto.

Idade?

39 anos.

– De que mais gosta na Universidade do Porto?

Da sua excelência nas mais diversas áreas.

– De que menos gosta na Universidade do Porto?

Da preocupação exagerada com hierarquias desnecessárias, conservadorismo.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto? 

Promover mais a investigação como um dos pilares da Universidade; criar estabilidade de carreira a investigadores que mostrem excelência; aumentar interações entre as varias faculdades e institutos de investigação.

– Como prefere passar os tempos livres?

Com os meus traquinas, família e amigos. A viajar, ao ar livre, a rir.

– Um livro preferido?

Steinbeck’s: Grapes of wrath, East of Eden, Cannery Row.

– Um disco/músico preferido?

Jorge Palma – Dá-me lume.

– Um prato preferido?

O cabrito assado da minha avó e madrinha.

– Um filme preferido?

Três que gosto de rever: “Finding Nemo”, “Amelie”, “Out of Africa”. Dos muito poucos que vi mais recentemente: “Gravity”.

– Uma viagem de sonho (realizada ou por realizar)? 

Realizadas: Cuba. Por realizar: Açores, Perú, Vietname. Para tornar a realizar, mas como deve ser: EUA.

– Um objetivo de vida?

Ser feliz, ser boa mãe, companheira, amiga, cientista, fazer o que gosto e continuar a sorrir 🙂

– Uma inspiração? (pessoa, livro, situação…)

Os meus Pais e os meus Filhotes por serem os melhores de sempre.

– Uma descoberta que gostasse de fazer…

Descobrir como controlar a divisão celular em organismos. Descobrir como esticar o tempo…

– Uma ideia para aumentar a visibilidade da investigação portuguesa a nível internacional?

Promover a universidade, a investigação que cá se faz e as oportunidades que cá existem em grandes conferências de prestígio internacional.