Estudo do ISPUP sublinha a importância do desenho urbano para a promoção do transporte ativo e da atividade física.

Quem vive em zonas com estruturas que favorecem a deslocação pedestre opta por andar a pé no seu dia-a-dia, em detrimento do uso de outros meios de transporte. A conclusão é de um estudo do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), que sublinha a importância do desenho urbano para a promoção do transporte ativo e da atividade física.

“Sabemos que o desenho urbano pode atuar como uma barreira à atividade física, reforçando o comportamento sedentário e a dependência do automóvel. Por outro lado, certas caraterísticas, como a presença de equipamentos de lazer, serviços e comércio a curta distância da residência ou o desenho das ruas, poderão motivar a prática da atividade física, mais concretamente o transporte ativo”, explica Ana Isabel Ribeiro, responsável pela investigação, publicada na revista “International Journal of Environmental Research and Public Health”.

Neste estudo, “adaptámos um indicador desenvolvido nos Estados Unidos da América (EUA), de nome walkability index (em português, índice de pedonalidade), de forma a perceber se quem reside em áreas mais caminháveis se desloca mais a pé nos trajetos do dia-a-dia”, refere a investigadora. Trata-se de um indicador que tem em conta a acessibilidade geográfica a diferentes equipamentos (nomeadamente comércio e serviços), a conectividade das ruas e a densidade residencial.

Foram incluídos no trabalho os municípios de Vila Nova de Gaia, Maia, Porto, Gondomar, Matosinhos e Valongo, que detêm cerca de 85% da população da Área Metropolitana do Porto, o correspondente a 1,1 milhões de habitantes.

Os resultados alcançados mostram que quem reside em zonas mais caminháveis tem uma probabilidade de deslocar-se a pé no dia-a-dia 80% superior à de quem vive em zonas menos caminháveis.

“Esta é uma associação forte e clara e revela que, em áreas desenhadas de forma atrativa para os peões, as pessoas tendem a deslocar-se mais a pé para o trabalho e para a escola. Andar é uma forma de atividade física simples, gratuita, segura e apropriada a todas as idades. Sendo Portugal um dos países europeus com maior proporção de pessoas que não pratica qualquer tipo de atividade física (cerca de 70%), a criação de espaços urbanos mais caminháveis poderia constituir-se como uma forma eficaz e sustentável de promover a prática de atividade física na população portuguesa”, acrescenta.

A investigação sublinha que os municípios e os responsáveis pelo planeamento urbano devem repensar o espaço público e arranjar formas de organizar o território que encurtem distâncias e aproximem os equipamentos de lazer e os serviços das habitações.

É importante também ressaltar que a criação de cidades mais caminháveis terá  impacto na sustentabilidade urbana, “pois terá efeitos sobre fatores ambientais como a poluição do ar e ruído, dado que as pessoas minimizam o uso de veículos motorizados, os grandes responsáveis pela emissão de poluentes e gases de estufa”, conclui a investigadora.

O trabalho intitulado Development of a Neighbourhood Walkability Index for Porto Metropolitan Area. How Strongly Is Walkability Associated with Walking for Transport? é também assinado pela investigadora Elaine Hoffimann, e pode ser consultado aqui.