Livro apresenta um retrato exaustivo da imprensa radical durante os últimos 20 anos da ditadura em Portugal.

Nos anos 60 e 70, “folhas mal impressas, escondidas, dobradas, metidas em envelopes, dentro de folhas de um livro, em pacotes disfarçados de outra coisa…” faziam passar a mensagem contra o regime ditatorial em Portugal. Algumas décadas depois, José Pacheco Pereira foi à procura delas, reuniu-as e conta agora a sua história em “As Armas de Papel – Publicações periódicas clandestinas e do exílio ligadas a movimentos radicais de esquerda cultural e política (1963-1974)”, livro que será apresentado na Reitoria da Universidade do Porto, no próximo dia 15 de março.

Para estudar um dos fenómenos mais marcantes do último período da ditadura, Pacheco Pereira inventariou e citou os periódicos, panfletos, brochuras, livros e manuscritos associados com a imprensa radical, bem como uma extensa bibliografia nacional e internacional, e analisou os processos da PIDE. O resultado final é um retrato exaustivo da imprensa clandestina oriunda da extrema-esquerda, mas também da que se “fez ouvir” contra a oposição tradicional ao regime ditatorial, liderada pelo PCP e pelos grupos republicano-socialistas, nos anos 60 e 70, até ao 25 de Abril de 1974.

Apostado em contribuir para a sua conservação deste espólio, o autor faz também o um inventário completo de todos os números, suplementos, edições e tiragens da imprensa clandestina. Uma história que é agora dada a conhecer ao público pela editora Círculo de Leitores mas que, segundo o autor, apenas “começa aqui”.

José Pacheco Pereira é licenciado em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto em 1978. Iniciou, desde cedo, a sua atividade política em movimentos de oposição ao regime do Estado Novo. Foi deputado à Assembleia da República e ao Parlamento Europeu. Atualmente é professor no Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE). Colabora regularmente na imprensa escrita e é comentador político na televisão. É autor de vários livros e artigos sobre história contemporânea e movimentos políticos e sociais.

De entrada livre, a sessão de apresentação “As Armas de Papel” terá lugar pelas 18h30, no Salão Nobre da Reitoria da U.Porto, e será liderada pelo historiador Fernando Rosas e por Manuel Matos Fernandes, professor da Faculdade de Engenharia da U.Porto que, nos anos 70, foi partidário do movimento estudantil “Por um ensino ao serviço do povo”, responsável pela edição de vários panfletos e periódicos de luta contra o Estado Novo citados no livro.