O estudo, publicado na revista “Blood Pressure”, sublinha a importância de promover o conhecimento da população portuguesa sobre a hipertensão.

Um estudo em que participam investigadores da Unidade de Investigação em Epidemiologia (EPIUnit) do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) avaliou os conhecimentos em saúde dos portugueses em relação à hipertensão arterial e encontrou várias lacunas, nomeadamente ao nível da perceção de risco, causas e consequências da doença.

Num contexto em que se espera que as doenças cardiovasculares permaneçam como principal causa de mortalidade e morbilidade até 2030, os investigadores sublinham a importância de promover o conhecimento da população portuguesa sobre a hipertensão, para que os cidadãos sejam capazes de gerir a sua saúde de forma mais informada.

A hipertensão arterial é, simultaneamente, uma doença cardiovascular e um fator de risco para o desenvolvimento de outras doenças cardiovasculares. Todos os anos, morrem cerca de 7,5 milhões de pessoas, em todo o mundo, devido à hipertensão, e perdem-se 92 milhões de anos de vida por incapacidade.

A população portuguesa apresenta elevados valores de pressão arterial, existindo, por isso, margem para melhorar o controlo e a prevenção da doença. A deteção precoce e o tratamento adequado da hipertensão são componentes-chave para a estratégia global de redução da carga de doença cardiovascular.

O presente estudo, publicado na revista “Blood Pressure”, avaliou os conhecimentos sobre hipertensão de 1624 adultos portugueses e constatou que “existem lacunas no conhecimento dos cidadãos, quer ao nível da perceção do risco, quer relativamente aos conhecimentos acerca das causas e consequências da hipertensão”, refere Elisabete Alves, primeira autora da investigação. Este estudo conta ainda com a assinatura de Ana Rute Costa, Ana Azevedo e Nuno Lunet, investigadores do ISPUP, e Pedro Moura Ferreira, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-UL).

No que toca à prevalência da doença, verificou-se que cerca de um quarto dos participantes do estudo não foi capaz de indicar uma estimativa de quantas pessoas poderão desenvolver hipertensão ao longo da vida.

Quanto às causas, aproximadamente 30% dos respondentes não conseguiu indicar uma causa para a hipertensão arterial, apesar da atenção dada, nos últimos anos, a este tópico em campanhas de promoção da saúde direcionadas à população em geral e nos meios de comunicação social. Esta dificuldade foi mais evidente nas pessoas mais velhas, menos escolarizadas e com níveis de literacia em saúde inadequados.

Importa ainda referir que, malgrado a maioria dos participantes ter referido corretamente o consumo excessivo de sal e a alimentação inadequada como as principais causas de hipertensão arterial, uma proporção significativa referiu também o stress, apesar de não existir uma relação clara entre esta condição e a doença.

Já no que diz respeito às consequências, mais de 85% dos respondentes identificaram o enfarte do miocárdio e o acidente vascular cerebral como os principais efeitos da doença.

De uma forma geral, as mulheres, os participantes com maior escolaridade e aqueles que apresentavam um diagnóstico prévio de hipertensão revelaram possuir mais conhecimentos em saúde sobre hipertensão. Tal significa que “é importante promover o conhecimento da população portuguesa sobre hipertensão, focando as pessoas menos escolarizadas, os indivíduos saudáveis ou que não possuem um diagnóstico desta patologia e também os homens”, diz a investigadora.

“Tendo em conta a elevada prevalência da hipertensão no nosso país e a atenção dada a esta doença nos meios de comunicação social e em campanhas de promoção da saúde, esperávamos um maior conhecimento, principalmente, das principais causas da hipertensão”, realça Elisabete Alves. “É importante refletir sobre estes resultados, de forma a promover o conhecimento da população sobre a hipertensão arterial, para que os indivíduos sejam capazes de gerir a sua saúde de forma mais informada e de controlar e gerir a doença, quando for caso disso. Esta é a grande mensagem de saúde pública que o nosso estudo salienta”, remata.

O estudo designado “Health-related knowledge on hypertension among the Portuguese population: results from a population-based survey” insere-se num projeto mais amplo que avaliou os conhecimentos e os comportamentos sobre saúde dos portugueses em vários domínios – obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares e cancro – e que contou com a colaboração do ICS-UL. Os resultados dos vários trabalhos estão compilados no livro “A Informação sobre saúde dos Portugueses: Fontes, Conhecimentos e Comportamentos”, organizado por Pedro Moura Ferreira, investigador do ICS-UL e Nuno Lunet e Susana Silva, investigadores do ISPUP.