A investigadora do ISPUP, Andreia Oliveira, realça a necessidade de monitorizar a medida que prevê a criação de um imposto sobre bolachas, biscoitos, cereais e batatas fritas que tenham um teor de sal igual ou superior a 1 grama por cada 100 gramas de produto.

A proposta de Orçamento do Estado para 2018 prevê a criação de um imposto sobre bolachas, biscoitos, cereais e batatas fritas que tenham um teor de sal igual ou superior a 1 grama por cada 100 gramas de produto. Andreia Oliveira, da Unidade de Investigação em Epidemiologia (EPIUnit) do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) e Coordenadora Nacional de Campo do Inquérito Alimentar Nacional e de Atividade Física (IAN-AF), cujos resultados foram divulgados ao público em março deste ano, apoia a medida, mas chama a atenção para a necessidade de monitorizar esta intervenção.

A alimentação e a nutrição estão crescentemente a ser alvo das políticas públicas de saúde em Portugal. A taxação de produtos alimentares menos saudáveis, como os produtos processados ricos em açúcar e sal, parece ser uma das apostas do Governo português.

“Este tipo de intervenções legislativas enquadram-se no âmbito da prevenção primordial e visam prevenir doenças relacionadas com a alimentação, de que são exemplo a diabetes, a hipertensão arterial e a obesidade. De acordo com dados do Inquérito Alimentar Nacional e de Atividade Física 2015-2016, quase 6 em cada 10 Portugueses têm pré-obesidade ou obesidade”, refere Andreia Oliveira.

Depois da taxação das bebidas açucaradas, o Governo quer agora avançar para os alimentos ricos em sal. Segundo dados do IAN-AF, 70% dos portugueses consome mais do que 5 gramas de sal por dia, que é a recomendação atual da Organização Mundial de Saúde (OMS), e estas percentagens sobem a partir da adolescência, sendo que a média de consumo nesta faixa etária (10-17 anos) e na idade adulta (18-65 anos) se aproxima dos 8 g de sal por dia.

Segundo os resultados avançados pelo IAN-AF, os alimentos que mais contribuem para este elevado aporte são o pão, o sal adicionado na confeção de alimentos, como o arroz, batatas e massas e a sopa. “Aquando da implementação da ‘lei do sal no pão’, um dos passos seguintes apontados foi a intervenção nas sopas da Restauração Coletiva, mas isto nunca se verificou, pelo menos numa perspetiva abrangente”, diz a investigadora.

Destes resultados percebe-se que, “se por um lado a literacia alimentar continua a ser muito importante, ensinando às pessoas a confecionar com menos sal e a fazer uma leitura comparativa dos rótulos dos alimentos, é igualmente urgente modificar os ambientes alimentares e aumentar as disponibilidades de ofertas mais saudáveis, por exemplo reduzindo o teor de sal nas sopas”, continua. Para além disso, “será igualmente importante que as taxas agora aplicadas revertam para a promoção de uma alimentação saudável e para a prevenção da doença”.

O enquadramento destas ações numa política nacional de alimentação e nutrição será o caminho a seguir, bem como a monitorização do impacto deste tipo de intervenções na saúde pública.