Radicado na Holanda desde 1965, Fernando Lopes da Silva voltou à U.Porto em 2013 para dar uma palestra no âmbito do Programa Doutoral em Engenharia Biomédica. (Foto: FEUP)

Faleceu esta terça-feira o investigador português Fernando Lopes da Silva, nome incontornável no estudo das neurociências a nível mundial e Doutor Honoris Causa pela Universidade do Porto.

Natural de Lisboa, onde nasceu a 25 de janeiro de 1935, Lopes da Silva licenciou-se em Medicina pela Universidade de Lisboa em 1959. Em 1962, muda-se para Londres, onde conclui uma pós graduação em engenharia e física no Imperial College da Universidade de Londres, antes de se juntar, em 1965, ao prestigiado Grupo de Investigação Cerebral (Brain Research Group) do National Institute of Medical Research.

Já na Holanda, país para onde se muda em 1965, conclui o doutoramento em Neurofisiologia pela Universidade de Utrecht (1970), aí estabelecendo-se, a partir de 1973, como responsável pelo grupo de estudos do cérebro do Instituto de Investigação Médica (TNO). Professor visitante de Neurofisiologia da Universidade de Twente entre 1975 e 1985, é nomeado, em 1980, professor catedrático de Fisiologia Animal na Faculdade de Ciências da Universidade de Amesterdão, instituição que dirige entre 1986 e 1989 e cujo Instituto de Neurobiologia virá a liderar de 1993 a 2000, ano em que se reforma e é nomeado Professor Emérito.

Autor de centenas de trabalhos em revistas científicas internacionais, focados sobretudo nos aspetos biofísicos da atividade elétrica do cérebro e da organização funcional das redes neuronais, notabilizou-se também na liderança de vários organismos ligados ao ensino e à investigação em neurociências. Neste âmbito, integrou o conselho científico do Instituto Holandês de Investigação do Cérebro (1980-1993), a que presidiu, e foi membro e presidente do Painel de Avaliação da Organização Holandesa de Investigação Científica (NWO) na área das neurociências (1991-2000).

Radicado na Holanda até ao final da vida, Fernando Lopes da Silva manteve, contudo, uma ligação próxima com Portugal, enquanto professor visitante da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e Professor do Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa. Foi também coordenador do painel das Ciências da Vida da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) e membro externo de acompanhamento e avaliação do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da U.Porto (IPATIMUP), atualmente integrado no Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S).

Foi esse percurso brilhante como cientista e professor que a Universidade do Porto reconheceu a 15 de outubro de 2002, por proposta do Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar (ICBAS), com o título de Doutor Honoris Causa da instituição. Entre os inúmeros prémios científicos e condecorações que recebeu ao longo da vida contam-se ainda o “Herbert H. Jaspar Award” da American Clinical Neurophysiology Society (1999), ou o “Storm van Leeuwen/Magnus Prize”, da Sociedade Holandesa de Neurofisiologia Clínica (2000), ambos pelas “contribuições excecionais” que realizou na área da neurofisiologia clínica.

Membro Honorário da Sociedade Britânica de Neurofisiologia Clínica, foi agraciado, em 2000, com o Grande-Colar de Oficial da Ordem de Santiago da Espada, concedido pelo então Presidente da República, Jorge Sampaio, por notáveis realizações no campo da Ciência, Arte e Literatura, e , um ano depois, com o título de Cavaleiro da Ordem do “Nederlandse Leeuw”, atribuído pela Rainha da Holanda em reconhecimento pelas suas realizações em Ciência (2001).