fachadas do Porto

Estudo desenvolvido por investigador da FEUP alerta para a diminuição progressiva da qualidade urbana da cidade do Porto.

É a maior conferência científica anual dedicada ao estudo da forma física das cidades e terá o Porto como um dos seus temas centrais. De 3 a 6 de julho, especialistas de todo o mundo reúnem-se na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) para debater e refletir sobre a morfologia urbana e o papel do planeamento e da gestão urbanística dos espaços nas cidades. A cidade do Porto será uma dos casos de estudo apresentados na 21ª edição da International Seminar on Urban Form (ISUF) , numa análise liderada por um investigador da FEUP.

O estudo sistemático da forma física das cidades começou há pouco mais de um século com o trabalho de investigação desenvolvido por um conjunto de geógrafos alemães. Desde então, a morfologia urbana tem vindo a desenvolver e a consolidar todo um conjunto de abordagens, teorias, conceitos e métodos para descrever e explicar os fenómenos urbanos, e para possibilitar uma intervenção mais informada sobre essa realidade.

Tudo isto estará em foco numa conferência em que a morfologia urbana do Porto será um dos temas fortes. O ponto de partida será um trabalho desenvolvido por Vítor Oliveira, investigador da FEUP, cuja análise e estudo sistemático da forma física da cidade Invicta à luz da morfologia urbana concluiu que de um modo geral, nas últimas décadas do século XX, a qualidade urbana das ruas e praças, dos quarteirões e dos edifícios da cidade do Porto foi progressivamente diminuindo.

De acordo com o investigador e organizador da edição deste ano da ISUF, este fenómeno deveu-se a dois fatores: por um lado, a autarquia local não dispôs, neste período, de um plano com uma forte visão de cidade (como o plano de Almeida Garrett nos anos 50), capaz de conferir uma estrutura de suporte às novas áreas, de regular de um modo eficaz o desenho das novas formas e de preservar o nosso valioso património edificado; por outro lado, a ação de proprietários e promotores, de arquitetos, engenheiros e construtores, não foi capaz de produzir formas urbanas com a qualidade daquelas que vinham a ser construídas até à viragem para a segunda metade do século.

Nos primeiros anos do século XXI e com a introdução do Plano Diretor Municipal (PDM) foi novamente dado um importante contributo no sentido de compreender as formas existentes na cidade e definir regras ao nível dos loteamentos e licenciamentos. No entanto, uma análise morfológica recente publicada nas revistas científicas Urban Morphology e Revista de Morfologia Urbana diz-nos que é possível fazer ainda mais e melhor, nomeadamente no que diz respeito à atividade desenvolvida pela Sociedade de Reabilitação Urbana (SRU). Vitor Oliveira, coordenador deste estudo que será apresentado durante a conferência, admite que a SRU não tem sido capaz de reabilitar, no verdadeiro sentido da palavra, os tecidos urbanos classificados como “zonas históricas”, muitas delas classificadas como Património Mundial da UNESCO.

O estudo de uma equipa de investigadores da FEUP mostrou que este ‘tecido’ histórico tem vindo a perder elementos significativos da nossa história urbana. Em alguns casos, a ‘conservação’ dos edifícios neste ‘tecido’ (que constitui apenas 1,7% do território municipal) tem correspondido apenas à manutenção das suas fachadas (por vezes com alteração de vãos) e a uma destruição completa de todo o interior do edifício, incluindo as lajes de piso e os acessos verticais, sendo posteriormente construído todo um novo edifício por trás da fachada antiga. Esta análise morfológica da cidade do Porto revelou também um conjunto de fragilidades, ao nível da forma urbana, em territórios de formação mais recente e que vão ser identificados na conferência que decorre na FEUP.