Grande parte do trabalho de Marcos na LEGO passa por desenhar produtos inspirados no universo dos heróis. (Foto: LUG Brasil)

Já imaginou se o seu trabalho fosse desenhar conjuntos de LEGO do Stars Wars, Batman ou mesmo dos Simpsons? Este trabalho de sonho pertence a alguém…Chama-se Marcos Bessa e é antigo estudante do Mestrado Integrado em Engenharia Informática e Computação da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP).

A trabalhar na sede da LEGO (Dinamarca) desde 2010, Marcos é senior designer da empresa e tem como principais funções desenhar produtos para crianças do sexo masculino dos 5 aos 8 anos e para adultos fãs de LEGO, e ainda desenvolver novas peças LEGO. Recentemente iniciou o papel de mentor para um novo designer que se juntou à equipa.

Marcos ingressou na FEUP em 2007 e completou todas as cadeiras dos três primeiros anos naquela que durante esse período foi a sua “segunda casa”. Contudo, cedo descobriu o gosto pelo design que, a par da paixão de infância pela LEGO, o levou a procurar um novo desafio no verão de 2010. “Nos últimos anos tinha retomado o hobby do LEGO que estivera adormecido durante a minha adolescência e até já pertencia à Comunidade 0937, um grupo de Fãs de LEGO em Portugal. Organizava e participava com eles em eventos nacionais e internacionais de aficionados pelo brinquedo. Decidi tentar a minha sorte, preparei um portefolio com algumas das minhas melhores criações em LEGO e acabei por ser um dos 40 selecionados a nível mundial para viajar até à sede da empresa em Billund, Dinamarca”, recorda Marcos. Quando lá chegou, deparou-se com um grupo bastante diversificado de pessoas, na sua grande maioria designers experientes ou jovens acabados de sair de escolas de design. Tentou a sorte. O objetivo era conseguir um dos poucos lugares disponíveis. Ficaram 10. Marcos começou a trabalhar em inícios de outubro desse ano. O sonho cumpriu-se.

Trabalhar na LEGO é, aos olhos do antigo estudante da FEUP, “muito gratificante”. Tem o privilégio de fazer o que realmente gosta, vê o seu trabalho reconhecido e é recompensado pelo esforço e energia dedicados à empresa. “Tenho a sorte de poder brincar e ser pago para isso”, confessa. Certo que há muito mais por trás do trabalho de um designer do que simplesmente empilhar blocos LEGO, mas são os desafios que mais o motivam no dia-a-dia. O facto de trabalhar num ambiente tão multicultural é semuma oportunidade e que o tem enriquecido imenso, como profissional e como pessoa. “[Dentro dos escritórios LEGO]“Confia-se nas pessoas com quem se trabalha e não se sente uma hierarquia forçada nem demasiado estrita. É sem dúvida um espaço ótimo para se trabalhar e sinto-me um sortudo todos os dias quando entro ao trabalho” conta Marcos..

Marcos transformou em peças de LEGO a casa mais famosa da televisão. (Foto: DR)

Marcos pertence à equipa do tema LEGO Super Heroes, em que o desafio passa por desenhar produtos inspirados no universo dos heróis tanto do grande ecrã como dos livros de banda desenhada. Depois do Batman, do Super Homem e da saga Star Wars, chegou recentemente a vez da casa dos Simpsons, projeto que está a ter um enorme boom de procura e exposição mediática, visto tratar-se de uma mítica série que agrada tanto a miúdos como graúdos. Estes conjuntos estão de resto entre os preferidos do designer, uma vez que são maiores do que os produtos normais mais direcionados para o público infantil, permintido usar técnicas de construção mais avançadas e adicionar mais detalhes do que noutros conjuntos.

Em termos de horas de dedicação, Marcos trabalha aquilo que se considera um trabalho “normal” na Dinamarca, 37 horas semanais, em média. E, exceto raras exceções, o trabalho é deixado nos escritórios da LEGO. “É importante manter um bom equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Há que ser dedicado e exigente, sem descurar o tempo e equilíbrio pessoal”, diz.

Quando questionado sobre projetos de sonho, Marcos diz que tem imensos mas “se os revelasse teria de eliminar os leitores desta entrevista. O meu trabalho é tão ou mais confidencial do que o do James Bond! (risos)”. Fora da empresa, adorava fazer algo ligado à música e ao palco. Gostava de voltar à representação, uma paixão de miúdo. E espera voltar a publicar. Marcos é uma pessoa de grandes paixões. Adora música, cinema, design, escrita… Portanto, além do trabalho full time, tem um projeto de design e solidariedade social que mantém sozinho, apenas por paixão e satisfação pessoal. É ainda escritor amador – ainda que mais esporádico nestes últimos dois anos. Espera retomar a escrita ainda durante 2014 e terminar projetos que foram ficando na gaveta.

Natural de uma pequena vila, chamada Vilela, no concelho de Paredes, Marcos sente falta de inúmeras coisas, sobretudo da proximidade da família. Mas o balanço até agora tem sido muito positivo e apesar de adorar Portugal, esta é agora a sua casa, a sua vida. Para já não há pretensões de voltar.

Há ainda tempo para deixar um pequeno pensamento para os mais “pessimistas”, como prova de que o capital humano português é de grande valor: “O nosso verdadeiro valor é tão grande quanto os nossos sonhos! Eu acreditei que era capaz, trabalhei e consegui. A minha inspiração? Todos aqueles que trabalharam e conseguiram antes de mim… Não somos menos que ninguém”.