O dia era de festa para a Universidade do Porto e o Presidente da República não quis deixar de se associar. Perante um Salão no Salão Nobre da Reitoria repleto, foi em tom elogioso que Marcelo Rebelo de Sousa encerrou esta sexta-feira, as comemorações da Sessão Solene do Dia da Universidade, num discurso em que, em nome de todos os portugueses, prestou homenagem à instituição, de que diz também ser parte.

“A  gratidão, a lembrança do passado, e a evocação do futuro”. Foi com estes três motes que o chefe de estado arrancou com um extenso agradecimento à instituição. “Gratidão por mais de um século de história,” disse, “de serviço a Portugal, à Educação, à Ciência, à Investigação, ao Desenvolvimento, à Cultura, ao Progresso Social, Económico e Humano”. Uma história de que o próprio também faz parte, enquanto membro da Comissão Instaladora da Faculdade de Direito (FDUP) e Doutor Honoris Causa da U.Porto, como fez questão de mencionar.

“Esse vosso passado acabou por acicatar o vosso melhor e converter sonhos em realidades. Sempre a pensar no futuro”, exortou Marcelo Rebelo de Sousa. Futuro que, prosseguiu, explica os “rankings notáveis e inspiradores” e os “centros de excelência em tão variados domínios” que definem a o ensino e a investigação da Universidade.

Os elogios prosseguiram, com Marcelo a destacar o modo como a U.Porto se relaciona com a sociedade – “a vossa imparável, ou, em muitas vertentes, incomparável relação com a textura social, económica e cultural” – mas também a maneira como a instituição cuida dos seus – “a vossa preocupação instante com as condições de vida escolar com o enquadramento social de vida de alunos, técnicos e administrativos e docentes” – e de todos os que a procuram, fruto da “incansável e frutuosa internacionalização” de uma universidade virada para o mundo, capaz de “aglutinar vontades com outras entidades congéneres, vizinhas ou longínquas.”

Na U.Porto, Marcelo vê por isso o “empenho em todos os maiores debates” na defesa dos ideais mais dignos: “a construção de uma pátria mais avançada, mais progressiva, mais justa, mais prospetiva.” Uma instituição que, concluiu, “não se acomoda, não se satisfaz com auto-comtemplações”, que desafia o improvável e o impossível”. Uma Universidade livre. “A vossa força é a vossa liberdade. É a vossa definição contra o vento. É a vossa pertinácia de ser mais, muito mais do que tanto esperavam ou auspiciavam.”

Universidade vai reforçar alojamento estudantil

Antes do Presidente da República, coube ao Reitor da U.Porto subir ao púlpito para fazer um ponto de situação do momento que a instituição vive. Num discurso em que não fugiu às grandes questões que marcam a atualidade do Ensino Superior, António de Sousa Pereira começou por destacar o “complexo” problema do alojamento que vem mobilizando a comunidade estudantil, e ao qual a atual equipa reitoral tem procurado fazer face através de “esforços junto de diferentes parceiros para encontrar soluções para a falta de alojamento a preços comportáveis”.

Para além dos projetos já anunciados, e que incluem a requalificação da  Residência Alberto Amaral, o Reitor revelou que há “diligências em curso para criar camas na Messe dos Sargentos do Porto, num edifício da Lutuosa de Portugal nos Aliados e num edifício da Universidade na Carvalhosa, junto à antiga Faculdade de Farmácia.” Outro projeto também a decorrer é o da “recuperação e renaturalização da Ribeira da Asprela”, movidas por um consórcio de que a U.Porto faz parte, “que vai melhorar a qualidade ambiental do campus universitário e criar um novo pulmão verde na cidade.”

A “conjuntura de exceção” que a Universidade atravessa na capacidade de atrair “talento internacional” para a sua comunidade foi outro dos tópicos relevados pelo Reitor. “No ano em que a U.Porto alberga o maior contingente internacional de toda a sua história, Sousa Pereira lembrou os mais de 5.600,” entre estudantes e investigadores estrangeiros, “vindos de mais de 90 países”, que encontram no Porto a sua casa.

Já como “paradigma de valorização do conhecimento” e de “um exemplar relacionamento com as empresas”, o Reitor tomou como exemplo o consórcio assinado ainda esta semana com a Bosch Ovar, que representa um investimento em I&D de 17 milhões de euros, ou a recente notícia de que a U.Porto foi a instituição portuguesa com o maior número de pedidos de registo de patentes europeias.

Na que foi a sua primeira intervenção no Dia da Universidade à frente da instituição, António de Sousa Pereira não deixou de alertar para a “atual situação de subfinanciamento” que “está a empurrar as universidades portuguesas para a periferia do ensino superior europeu”, numa altura em que a “competição pela atração de talento e pela captação de investimento é cada vez mais intensa.” Situação que sairia agravada por “medidas como a redução das propinas, a regularização dos precários da Função Pública ou a integração dos bolseiros”, que, apesar de “bem intencionadas”, “acarretam significativos encargos financeiros para as universidades, sem a devida compensação prevista no Orçamento do Estado.”

No final, deixou a promessa de “continuar a promover a coesão, a qualidade, a competitividade e a notoriedade” da U.Porto. “O esforço e o talento de todos vós, membros da nossa comunidade académica, fazem-nos acreditar no sucesso da missão que temos pela frente”.

Celebrar a Língua Portuguesa

Numa altura em que está a ser ultimada a instalação da Casa de Pernambuco no Porto, sob o título de “Casa das Culturas de Língua Portuguesa, a oradora convidada do Dia da Universidade 2019 foi a presidente da Academia Pernambucana de Letras, Margarida Cantarelli. “Vinda do Recife, cidade irmã do Porto,” elogiou a U.Porto pelo seu contributo “para um mundo melhor onde os compromissos com o todo superam o individualismo e o personalismo”, razão pela qual deixou à instituição os seus “cumprimentos efusivos” e reconheceu que merece a “admiração de todos.”

Da parte do Reitor, Margarida Cantarelli teve a confirmação de que, “depois de vários anos de impasse”, a Casa das Culturas de Língua Portuguesa “vai finalmente ser o espaço de intercâmbio académico, científico e cultural que os parceiros do projeto idealizaram.” Facto que motivou a académica pernambucana a considerar que “A Casa será mais um ponto de estudos e difusão da unidade na diversidade da nossa cultura lusófona”, um espaço “dedicado à nossa mãe comum, a Língua Portuguesa”, a qual, “como o mar, nos unirá para sempre.”

Também usaram da palavra nesta sessão o presidente do Conselho Geral da U.Porto, Artur Santos Silva, que elogiou a instituição como “o maior criador de Ciência do nosso país”, e o presidente do Conselho de Curadores, Miguel Cadilhe. Como representante dos estudantes da U.Porto, Marcos Teixeira lançou uma reflexão sobre um Ensino Superior “suficiente e sustentável” e não apenas “uma bandeira bordada de ideologias políticas”, ao passo que o representante dos trabalhadores, Carlos Oliveira, desafiou a plateia a refletir sobre que universidade irá a próxima geração herdar.

Este dia festivo foi também o momento para celebrar o mérito daqueles que se destacaram ao longo do último ano e de homenagear membros da comunidade universitária por décadas de dedicação ao ensino. Dos Prémios Incentivo, entregues aos melhores estudantes de primeiro ano de licenciaturas e mestrados integrados, ao Prémio Excelência Pedagógica, galardão que distingue as melhores práticas educativas de docentes da casa, passando pelo Prémio Excelência na Investigação Científica, ou pelo Prémio Cidadania Ativa, a U.Porto reconheceu, mais uma vez, os melhores entre os melhores. Ponto alto da cerimónia foi também a proclamação dos dez novos Professores Eméritos, reconhecimento reservado a professores jubilados e reformados que se destacaram pelos seus altos serviços prestados à U.Porto, a instituição que, por um período de mais 5 anos, continuarão a servir.

Recorde aqui todos os momentos da Sessão Solene do Dia da Universidade 2019.