Estudo de investigadores da EPIUnit do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) alerta para a importância da literacia em saúde distribuída. (Imagem: Pixabay/HansMartinPaul)

A forma como as pessoas com doenças crónicas, nomeadamente a diabetes tipo 2, gerem a sua doença (como aderem aos tratamentos e cumprem a terapêutica) depende, não apenas do seu nível de literacia individual, mas também do modo como usam a sua rede de suporte – familiares, profissionais de saúde, amigos, vizinhos, etc. – para lidar com a patologia. O aviso é deixado num estudo de investigadores da Unidade de Investigação em Epidemiologia (EPIUnit) do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), que alerta para a importância da literacia em saúde distribuída.

A literacia em saúde é uma questão global da saúde pública. Vários estudos mostram que um baixo nível de literacia individual afeta negativamente os indivíduos, quer na forma como compreendem a informação sobre saúde, quer na forma como comunicam com os médicos ou aderem aos tratamentos.

“Na literatura começam a surgir algumas informações sobre o modo como o suporte emocional e funcional influencia positivamente a melhoria dos cuidados continuados de doenças crónicas, como a diabetes tipo 2. Essas melhorias poderão ser mais facilmente alcançadas se for considerada a literacia em saúde distribuída, ou seja, a forma como o conhecimento da doença se distribui pela rede social do indivíduo”, refere Liliana Abreu, primeira autora do estudo.

Liliana Abreu, primeira autora do estudo designado “Distributed health literacy among people living with type 2 diabetes in Portugal: Defining levels of awareness and support”, publicado na revista “Health and Social Care in the Community””.

Para compreender a importância da literacia distribuída em saúde na gestão da doença, os investigadores realizaram um estudo qualitativo e observacional que envolveu pessoas diagnosticadas com diabetes tipo 2 (26, no total). Os autores identificaram a rede de suporte (mediadores de saúde) utilizada pelos participantes, o conhecimento que têm da doença, a forma como circulam e navegam nos serviços de saúde, o modo como vivenciam a patologia, entre outros aspetos. “Queríamos perceber como é que as pessoas usam as redes pessoais para concretizarem tarefas relacionadas com a gestão da própria doença. E estamos a falar de tarefas muito básicas, como tomar a medicação ou os cuidados com a alimentação”, diz a investigadora.

Os resultados revelam que o apoio da família, dos amigos e dos profissionais de saúde é relevante para a gestão desta doença crónica. Os indivíduos com menos escolaridade usam os seus mediadores para obterem, essencialmente, auxílio do ponto de vista informacional e funcional, ao passo que as pessoas mais escolarizadas utilizam a sua rede para obterem, sobretudo, suporte de cariz emocional.

Em termos práticos, a investigação chama a atenção para o facto de na gestão de doenças crónicas e de cuidados continuados, como a diabetes tipo 2, existir a necessidade de se criarem espaços de diálogo entre os diferentes mediadores e os pacientes.

“O reconhecimento da literacia em saúde distribuída é inovador e complementa a informação sobre a influência das redes de suporte do indivíduo, para a construção de um sistema de saúde mais sustentável e centrado no doente. Tal representa a atual estratégia global dos cuidados continuados integrados de saúde, onde a coprodução de conhecimento e governação para a saúde se sustenta na provisão de saúde personalizada”, avança Liliana Abreu. “O estudo salienta a necessidade de existir um maior enfoque na literacia em saúde distribuída e não apenas na literacia em saúde individual, uma vez que esta não reside unicamente na forma como se lida com a informação a nível cognitivo. Além disso, os mediadores podem ajudar a compensar o baixo nível de literacia dos doentes. Identificar os mediadores e entender a forma como a distribuição de responsabilidades na gestão da doença se distribui na rede, de modo a permitir uma colaboração mais eficaz entre os profissionais de saúde, família/amigos e media, é crucial”, conclui.

O estudo intitulado “Distributed health literacy among people living with type 2 diabetes in Portugal: Defining levels of awareness and support” foi publicado na revista “Health and Social Care in the Community” e pode ser consultado aqui.