O Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) vai dar início ao projeto “baMBINO”, uma investigação que visa avaliar o acesso das mulheres migrantes aos serviços de saúde perinatais em Portugal, o seu nível de satisfação para com os cuidados recebidos durante o parto e após o parto e as diferenças existentes no atendimento prestado a esta população e às mulheres portuguesas nativas.  Em suma, irá medir a possível dimensão da desigualdade e das iniquidades em saúde que as migrantes enfrentam.

Sabe-se que a população migrante se confronta com novos ambientes culturais e legais, barreiras linguísticas e restrições no acesso aos serviços de saúde, quando entra no país de destino. Tendo em conta que o período reprodutivo e perinatal influencia e molda o futuro da mãe e da criança, é fundamental intervir precisamente nesta altura. É importante evidenciar, sobretudo, a forma como a política de saúde legalmente acolhedora dos direitos dos migrantes em Portugal é vivida pelos interessados.

O projeto vai contar com a colaboração de profissionais de saúde de 38 centros hospitalares com maternidade, todos os que se localizam em Portugal Continental, para recrutar mulheres migrantes e uma amostra de portuguesas nativas para participar na investigação. O método de obtenção de dados consistirá na aplicação de inquéritos tanto a migrantes como a mães nativas, ao longo de um ano após o parto.

O estudo irá averiguar se os centros hospitalares estão preparados para receber mulheres migrantes, provenientes de contextos culturais diferentes, e avaliar se as expectativas criadas por estas mulheres quanto à prestação de cuidados pré-natais durante e após o parto foram, ou não, alcançadas. Os resultados obtidos serão depois comparados com a situação reportada pelas mulheres nativas.

O projeto avaliará, sensivelmente, 3.500 mulheres migrantes e igual número de mulheres portuguesas nativas, durante o período de 10 meses (1 de abril de 2017 a 31 de janeiro de 2018).

“Os resultados alcançados servirão de base para apoiar decisões informadas no âmbito da implementação de programas de saúde perinatal e integração das migrantes no Serviço Nacional de Saúde. Pretende-se também fornecer evidência para melhorar a eficácia dos programas de acompanhamento desta população vulnerável, a curto e a longo prazo”, refere Henrique Barros, coordenador do Projeto e da Unidade de Investigação em Epidemiologia Perinatal e Pediátrica do ISPUP.

Esta investigação inédita permitirá comparar as práticas portuguesas com as de outros países desenvolvidos, como o Canadá, Austrália, Reino Unido e Noruega, onde se aplicam questionários semelhantes.

Apresentado esta sexta-feira, no Auditório do Museu Nacional Soares dos Reis, no Porto, o projeto “baMBINO – Saúde Perinatal em Migrantes: Barreiras, Incentivos e Resultados” fé financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (Referência PTDC/DTPSAP/6384/2014).