O grupo que esteve envolvido no programa comunitário de exercício físico apresentou melhorias importantes no controlo da diabetes. (Foto: Diabetes em Movimento).

Um estudo assinado pela Unidade de Investigação em Epidemiologia (EPIUnit) do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) mostra que é possível cumprir com a dose mínima de exercício físico semanal, recomendada pelas principais organizações científicas internacionais para o controlo da diabetes, utilizando estratégias de baixo custo e elevada aplicabilidade. Com base nestes resultados, o estudo sublinha que os decisores na área da saúde deveriam promover intervenções comunitárias de exercício físico, especialmente nos Cuidados de Saúde Primários e nas Estruturas Residenciais para Idosos, para aumentar a atividade física e controlar a diabetes.

O exercício físico é um dos pilares do tratamento e controlo da diabetes tipo 2 e está associado a uma diminuição da incidência de doenças cardiovasculares nesta população. As intervenções de base comunitária – implementadas em grupos de pessoas da mesma comunidade e pelas instituições locais – são recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para promover alterações no estilo de vida, especialmente em indivíduos com doenças crónicas, e têm maior adesão do que as intervenções individuais.

Neste contexto, “procurámos, com este estudo, testar em condições reais um modelo de programa comunitário de exercício físico, passível de implementar com estratégias de baixo custo e elevada aplicabilidade, e sem comprometer a segurança dos participantes”, refere Romeu Mendes, primeiro autor da investigação. “Sabíamos que a maior parte das Instituições locais, como os Centros de Saúde, Hospitais, e Lares de Idosos não dispõem de equipamentos complexos e dispendiosos para a prática de exercício físico. Por outro lado, queríamos também avaliar a eficácia desta intervenção no controlo da diabetes tipo 2 e do risco cardiovascular associado”, acrescenta.

Os investigadores recrutaram uma amostra de 60 indivíduos de meia-idade e idosos (entre os 55 e os 75 anos) com diabetes tipo 2 diagnosticada para participar no “Diabetes em Movimento”, um programa comunitário de exercício físico desenhado de acordo com as recomendações internacionais de atividade física para o controlo da diabetes tipo 2. Este programa combina, na mesma sessão, exercício aeróbio, resistido, de agilidade/equilíbrio, e de flexibilidade. Todas as atividades são realizadas com materiais de baixo custo, como cadeiras de plástico, garrafas de água cheias com areia, pequenos halteres, bolas de mão e o peso do próprio corpo. O programa foi realizado durante 9 meses, com três sessões semanais de 75 minutos, supervisionadas por um técnico de exercício físico e um enfermeiro.

Os participantes continuaram com os seus cuidados habituais, como a medicação, consultas e tratamentos médicos, alimentação e atividade física.

Os resultados foram comparados com um grupo de controlo (110 indivíduos), com as mesmas características e cuidados habituais, mas que apenas não participou no programa de exercício.

No final do estudo, verificou-se que o grupo que esteve envolvido no programa comunitário de exercício físico apresentou melhorias importantes no controlo da diabetes (hemoglobina glicada e glicose em jejum), no perfil lipídico (aumentou o bom colesterol e diminuiu o mau colesterol), na pressão arterial (reduziu a pressão arterial sistólica e diastólica), no perfil antropométrico (perímetro da cintura e índice de massa corporal) e no risco de ter um problema nas artérias coronárias a 10 anos, em comparação com o grupo de controlo.

Os resultados desta investigação “demonstram que intervenções de exercício físico de baixo custo, como atividades baseadas na marcha ou exercícios realizados com o peso do próprio corpo ou com pequenos pesos livres, são eficazes em induzir benefícios significativos na diabetes e nos principais fatores de risco cardiovascular”.

O estudo vem sublinhar “a importância de os decisores na área da saúde promoverem e financiarem estas intervenções a nível local, especialmente nos Centros de Saúdes e nas Instituições de apoio aos Idosos”.

O “Diabetes em Movimento” está atualmente a ser implementado em Vila Real, Maia, Rio Maior, Évora, Torres Vedras, Seixal e Viseu.

De realçar que a diabetes é um dos maiores desafios do Sistema Nacional de Saúde. Em Portugal, mais de 13% da população (cerca de 1 milhão de portugueses) é afetada por esta doença crónica e os custos associados ao seu tratamento atingem 1% do PIB e 12% de toda a despesa em saúde.