O Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) iniciou recentemente o projeto BiTwin: a primeira coorte em Portugal e uma das primeiras a nível mundial com ênfase no estudo de gémeos, para estudar o modo como a interação entre a genética e o ambiente influencia o desenvolvimento das crianças e a ocorrência de doenças.

“Atualmente, um dos problemas mais relevantes no âmbito da saúde pública, centra-se em conhecer como as exposições a que estamos sujeitos diariamente condicionam a saúde humana”, diz Cláudia Ribeiro, investigadora do ISPUP, envolvida no projeto.

O objetivo do BiTwin é estudar precisamente a influência do expossoma – conceito que descreve todas as influências ambientais a que estamos expostos ao longo da vida – sobre a saúde. Tais influências incluem a exposição ao meio ambiente, a alimentação, os estilos de vida, as interações sociais, os processos endógenos que começam logo no momento da gestação (in útero) e até a saúde dos pais no momento da conceção.

O foco inicial do projeto são doenças metabólicas, respiratórias, alérgicas e desenvolvimento neuronal.

Os gémeos representam uma oportunidade única para perceber a influencia da genética e do ambiente. Como explica Cláudia Ribeiro, “uma vez que os gémeos partilham o ambiente intrauterino e alguns também o código genético, segui-los permitirá quantificar os eventos da vida que estão relacionados com as exposições ambientais posteriores ao nascimento e o que é explicado pela genética ou pelo ambiente intrauterino. Isto é fundamental para compreender melhor os fenómenos da epigenética”.

“Uma vez que os gémeos, quando verdadeiros (monozigóticos), têm essencialmente a mesma informação genética, as diferenças observadas entre eles ao longo do tempo, só podem ser explicadas devido a fatores ambientais”, explica a investigadora. Também os gémeos falsos (dizigóticos) serão uma mais-valia neste projeto, pois apesar de terem um código genético diferente, quando comparados com os gémeos monozigóticos, permitem perceber a importância da hereditariedade.

Serão também incluídos recém-nascidos não gémeos, para ajudar a compreender melhor o impacto do período intrauterino no desenvolvimento das crianças.

O projeto, que arrancou em fevereiro de 2017 no Centro Hospitalar de São João, e que está atualmente a decorrer também no Centro Materno Infantil do Norte, no Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho e no Hospital Pedro Hispano, pretende acompanhar estas crianças ao longo da vida.

Está a ser recolhida informação através de questionários e colhidas amostras biológicas como por exemplo urina, sangue materno, sangue do cordão umbilical, placenta, cabelo do bebé e da mãe, o primeiro leite materno, entre outras.

O BiTwin está em fase de recrutamento até final de 2018. Até ao momento, participam no projeto 237 famílias.

Esta coorte insere-se no contexto do projeto europeu HEALS – Health and Environment-wide Associations based on Large Population Surveys.