O trabalho premiado mostrou que a prática da atividade física foi declinando ao longo da adolescência, dos 13 para os 17 anos, sendo este declínio mais acentuado entre as raparigas. (Foto: DR)

A Associação Portuguesa de Epidemiologia (APE) atribuiu o prémio de melhor Publicação de 2017 a um trabalho desenvolvido no Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), que avaliou a variação da prática de atividade física ao longo da adolescência e a sua ligação com o ambiente urbano envolvente.

Designado The Role of Urban Environment, Social and Health Determinants in the Tracking of Leisure-Time Physical Activity Throughout Adolescence, o trabalho, da autoria dos investigadores Alexandre Magalhães, Fátima Pina e Elisabete Ramos, foi realizado no âmbito da coorte EPITeen, um estudo longitudinal que arrancou em 2003 e que tem vindo a avaliar vários determinantes de saúde de adolescentes, nascidos em 1990, que frequentavam as escolas públicas e privadas da cidade do Porto. Este estudo analisou a evolução da prática de atividade física, dos 13 para os 17 anos, apenas nos 969 adolescentes residentes na cidade do Porto.

O artigo, publicado na revista Journal of Adolescent Health, mostrou que a prática da atividade física foi declinando ao longo da adolescência, dos 13 para os 17 anos, sendo este declínio mais acentuado entre as raparigas. Além disso, percebeu-se também que a prática de desporto logo no início da adolescência era um dos mais fortes determinantes para a realização de atividade física moderada/vigorosa mais tarde.

Constatou-se que “os jovens que praticavam desporto, tanto de lazer como de competição, no início da adolescência, conseguiram manter ou aumentar a prática de atividade física aos 17 anos”, refere Alexandre Magalhães, primeiro autor do estudo, coordenado pela investigadora do ISPUP, Elisabete Ramos.

“Por este motivo, é importante induzir os jovens a praticarem atividade física logo na fase inicial da adolescência, ou até mesmo antes, para que se criem hábitos saudáveis que possam ser mantidos ao longo do tempo”, acrescenta.

O estudo mostrou ainda que o ambiente urbano, nomeadamente a existência de espaços verdes e de recintos desportivos, pareceu não influenciar a prática de exercício físico aos 17 anos. Contudo, tal pode dever-se ao facto de “na nossa coorte não ter havido uma mudança de endereço por parte dos participantes e de não terem existido grandes alterações no ambiente urbano do Porto durante as duas avaliações que realizámos. Isto significa que o ambiente urbano que envolvia estes adolescentes aos 17 anos era o mesmo que os envolvia aos 13. Portanto, o papel do espaço urbano nas práticas de exercício físico foi definido no início da adolescência e mantido mais tarde”, explica.

A investigação alerta para o facto de a maior parte dos espaços desportivos da cidade do Porto estarem desenhados para a prática de atividades desportivas como o futebol e o basquetebol. Esta situação induz desigualdades, pois quem tem preferência por estas atividades terá mais oportunidade de praticar atividade física.

Para os investigadores, “os resultados deste estudo reforçam a importância de programas que promovam a prática de atividade física e de desporto durante idades precoces, para prevenir mais tarde a epidemia da inatividade física, nomeadamente entre aqueles que praticam pouco exercício físico, como as raparigas, e entre a população com piores condições socioeconómicas”, indicam.

Tendo em conta que a inatividade física está relacionada com o aumento de doenças crónicas, como a obesidade, a hipertensão arterial e doenças cardíacas e respiratórias, a promoção da atividade física traria ganhos para a saúde pública. “Toda a nossa população beneficiaria e o Governo também, uma vez que cairiam as despesas em saúde”, concluem.

O Prémio atribuído aos investigadores tem o valor pecuniário de 1500 euros e garante a inscrição no XIII Congresso da APE (Setembro, em Lisboa), onde terá lugar a cerimónia de entrega do prémio.