Projeto financiado em dez milhões de euros visa identificar as melhores abordagens para prevenir e tratar a obesidade, especialmente em crianças até aos 12 anos.

Investigadores do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) estão a participar no projeto STOP (Science and Technology in childhood Obesity Policy), um estudo europeu, financiado em dez milhões de euros, que visa identificar e testar as melhores abordagens para a prevenção e o tratamento da obesidade, especialmente em crianças socialmente vulneráveis.

Lançado no dia 1 de junho – Dia Mundial da Criança – o STOP, liderado pelo Imperial College Business School do Reino Unido, é o maior projeto de investigação na Europa para combater a obesidade infantil e envolve 31 organizações de 16 países europeus.

Sabe-se que, em todo o sul da Europa, em partes da Europa Central e Oriental e no Reino Unido, mais de uma em cada 10 crianças com idades entre os 5 e os 19 anos é obesa. Em países como a Grécia, Malta e Itália, mais de um terço das crianças já demonstram excesso de peso.

Se a atual onda de obesidade infantil não for interrompida, até 2025, mais de um em cada três adultos será obeso em alguns países europeus.

Esta previsão resulta de dados obtidos nas últimas décadas, sendo importante “modificar essa tendência, que pode levar a uma situação paradoxal: pela primeira vez, praticamente ao fim de um século, a esperança de vida da geração dos filhos pode ser inferior à dos pais”, refere Henrique Barros, investigador que coordena a equipa do ISPUP envolvida no projeto.

Nos próximos quatro anos (junho de 2018 a maio de 2022), o projeto pretende compreender o papel do ambiente na formação dos comportamentos das crianças e nas escolhas dos pais, desde antes do nascimento. Serão agregados dados de 17 coortes [grupo de pessoas que possuem características em comum] de crianças em toda a Europa para assinalar os primeiros sinais de mudanças biológicas que podem conduzir à obesidade.

Este estudo “tem uma importante contribuição das coortes do Porto – Geração XXI e EPITeen – nas quais seguimos crianças e adolescentes desde há cerca de 15 anos”, indicou Henrique Barros.

Adicionalmente, um estudo experimental, a ser realizado na Suécia, Espanha e Roménia, vai testar se as tecnologias digitais podem ajudar jovens crianças obesas e as suas famílias a alcançarem melhorias sustentáveis ​​ao nível do peso corporal, especialmente entre a população infantil oriunda de um contexto socioeconómico desfavorável.

Foto de grupo: STOP project

O projeto também atuará no sentido de responsabilizar a indústria alimentar e outros atores comerciais pelo que as crianças consomem, estimulando-os a produzir soluções inovadoras para tornar a alimentação infantil mais saudável.

Entre outras políticas, avaliará a possibilidade de os governos europeus usarem alavancas – como impostos, rótulos nutricionais e restrições de comercialização de alimentos e bebidas – para combater a obesidade infantil.

Segundo Franco Sassi, responsável pelo projeto e professor do Centro de Economia da Saúde e Inovação Política na Imperial College Business School, “este é um investimento significativo da União Europeia para encontrar as abordagens mais bem-sucedidas e eficazes para reduzir a incidência de obesidade infantil e contribuir para que as crianças que já sofrem da doença obtenham o melhor apoio”.

“Com as taxas de obesidade infantil a duplicar nos últimos 20 anos, nenhum aspeto deste cenário pode ser ignorado. Vamos investigar uma ampla gama de elementos que contribuem para a obesidade, desde fatores genéticos, biológicos e comportamentais, influências sociais e culturais, até aos motores económicos e comerciais com impactos no aumento dos níveis de obesidade infantil na região”, remata.

O projeto, que é a segunda grande iniciativa financiada pela União Europeia lançada este ano, no âmbito do programa Horizonte 2020, conta com a participação de parceiros pertencentes a departamentos de investigação de Universidades, órgãos governamentais, organizações internacionais (Organização Mundial da Saúde, Agência Internacional para a Investigação do Cancro e Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico), organizações da sociedade civil focadas na saúde e nas crianças e consórcios europeus (EIT Health e EIT Food), promotores de inovação no setor da alimentação e da saúde. As organizações parceiras estão sediadas em 12 Estados-Membros da União Europeia, na Suíça, Estados Unidos e Nova Zelândia.

Nos dias 4 e 5 de junho, decorreu, em Londres, o kickoff meeting do projeto, no qual participaram as investigadoras do ISPUP, Carla Lopes e Sílvia Fraga.