O estudo foi coordenado pela investigadora do i3S Perpétua Pinto-do-Ó. (Foto: DR)

Uma equipa do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde, Universidade do Porto (i3S), em parceria com um grupo do Institute Pasteur, em Paris, demonstrou, num artigo publicado na revista Plos Biology, que é possível identificar e isolar células cardíacas imaturas a partir de músculo cardíaco adulto. As características destas células levam a perspetivar a sua utilização em terapias regenerativas após um enfarte de miocárdio.

O miocárdio tem fraca capacidade regenerativa, característica que dificulta a recuperação de corações de adultos que tenham enfartes graves com morte de tecido cardíaco. Há mais de uma década tinha sido proposto que o coração possuía células estaminais que, devidamente ativadas, regenerariam o órgão no pós-enfarte, no entanto, várias equipas de cientistas têm reunido evidências de que essas células estaminais não existem.

Os investigadores do i3S estavam precisamente à procura de células estaminais cardíacas e acabaram por desenvolver um método de isolar um outro tipo de células, os cardiomiócitos imaturos, com propriedades regenerativas igualmente promissoras.

Cardiomiócito imaturo no tecido cardíaco de um embrião de ratinho. (Imagem: DR)

Segundo Perpétua Pinto-do-Ó, coordenadora do estudo do i3S, «os cardiomiócitos imaturos que identificámos são células do músculo cardíaco com alguma diferenciação, mas que se mantêm mais jovens, pelo que conseguem multiplicar-se e potencialmente formar novo músculo». Isto torna-as perfeitas candidatas para regenerar o tecido perdido. Ainda segundo a investigadora, «existem relatos de outros grupos sobre a existência de células com estas propriedades», mas, adianta, «somos os primeiros a descrever uma forma de as isolar não comprometendo a sua integridade para uso na clínica”.

Esta forma de identificação permite aos investigadores separar os cardiomiócitos imaturos das outras células cardíacas já sem capacidade regenerativa. Ana Cumano, do Instituto Pasteur, adianta que «os cardiomiócitos imaturos podem ser identificados pela proteína CD24/HSA e coexistem com cardiomiócitos maduros. É essa proteína que podemos utilizar como um tipo de “anzol” para os separar das outras».

A primeira autora do trabalho, Mariana Valente, explica ainda que «para isolar e identificar as células imaturas foi necessário combinar a análise de múltiplas proteínas à superfície das células com experiências de transplantação em ratinhos». Com este método conseguiu-se pela primeira vez isolar cardiomiócitos imaturos de corações adultos, que são aqueles que têm capacidade de renovação celular e, como tal, promissores para o desenvolvimento de novas abordagens no tratamento de enfarte de miocárdio no futuro.