O peixe pulmonado (Protopterus annectens) é um exemplo de uma espécie de vertebrados que perdeu o estômago. (Foto: Jonathan Wilson)

Será o estômago um órgão vital? Sabemos que um ser humano em situações excecionais pode viver sem estômago, mas será esta uma situação normal noutros vertebrados? E qual a sua relação com a evolução morfológica das espécies? Uma equipa de investigadores do CIIMAR (Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto) resolveu um puzzle evolutivo com mais de 150 anos respondendo a estas questões no trabalho publicado na última edição do conceituado jornal científico Proceedings of the Royal Society B.

Partindo dos trabalhos históricos dos zoólogos George Cuvier e Franz Leydig em 1850/51, a equipa de investigadores do CIIMAR constituída por Filipe Castro, Odete Gonçalves e Jonathan Wilson, demonstrou que a perda recorrente do estômago em espécies de vertebrados se correlaciona com o desaparecimento completo dos genes responsáveis pela função gástrica (pepsina e bomba de protões). Assim, em animais tão diferentes como o peixe pulmonado, o ornitorrinco, o peixe zebra ou as quimeras, o estômago foi perdido e provavelmente nunca mais voltará.

O estômago definido pela digestão ácida e péptica é uma inovação dos vertebrados e tem sido bem conservada ao nível molecular desde os tubarões até nós, os seres humanos. Através do estudo do genoma de 14 espécies de vertebrados com e sem estômago e da comparação dos seus mapas genéticos, os investigadores do CIIMAR descobriram que nas espécies sem estômago os genes relacionados com a digestão peptídica estavam ausentes.

Este trabalho – intitulado “Recurrent gene loss correlates with the evolution of stomach phenotypes in gnathostome history –  é um ponto de partida importante para futuros estudos que procurarão perceber a possível ligação entre os componentes da dieta e a perda deste órgão. Será que nós os humanos poderemos um dia também vir a perder o estômago?