André Machado, Rute Fonseca e Filipe Castro lideraram o trabalho no CIIMAR. (Foto: CIIMAR)

Através do uso de tecnologias de nova geração para sequenciação de genomas e análises funcionais, um consórcio internacional liderado pelo Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR), da Universidade do Porto, conseguiu fornecer um primeiro olhar sobre o genoma da sardinha e elucidar sobre a capacidade daquela espécie em biossintetizar ácidos gordos polinsaturados, os famosos ómega-3.

O estudo derivado deste consórcio internacional, e que conta também com participação de investigadores do Instituto do Mar e da Atmosfera (IPMA), resultou num artigo agora publicado na revista científica internacional Genes e que fornece pela primeira vez dados sobre o genoma da sardinha.

Os resultados deste trabalho trazem ainda conhecimentos que apontam para que, tal como muitos outros peixes de origem marinha, a sardinha, sendo eficiente na produção endógena de ácidos gordos como o DHA, seja incapaz de sintetizar outros ómega 3 de cadeia longa. Este conhecimento é de particular importância para manusear a espécie em cativeiro, nomeadamente na formulação de rações para aquacultura nutricionalmente equilibradas.

Note-se que os ácidos gordos do tipo ómega-3 são nutrientes essenciais para a saúde humana, em particular nas sociedades ocidentais, dada a prevalência significativa de doenças cardiovasculares e inflamatórias. Apenas alguns animais conseguem biossintetizar ómega-3 de cadeia longa, incluindo o DHA (Ácido-Docosa-Hexaenóico) essencial para o desenvolvimento do cérebro, da pele e da retina. Por essa razão, a dieta é a fonte principal de ómega-3 para muitos organismos, incluindo os seres humanos. O seu consumo e incorporação na nossa alimentação é altamente recomendado, sendo os produtos de origem marinha, como a sardinha, exemplos de alimentos com alto teor de ácidos gordos do tipo ómega-3. E os portugueses não podiam estar mais de acordo já que a sardinha é uma espécie nativa, que já se tornou icónica na representação do nosso país.

André Machado (CIIMAR-UP), primeiro autor do artigo, afirma que os resultados representam um “instrumento particularmente relevante para melhorar o nosso conhecimento sobre a biologia da sardinha”. O investigador Filipe Castro do CIIMAR-UP, cientista sénior neste trabalho, complementa que “esta descoberta tem, por exemplo, um impacto muito significativo no conhecimento sobre a sua nutrição e, portanto, da manutenção em cativeiro”, e exemplifica o potencial dos resultados do estudo: “podemos agora estudar e formular com alguma exatidão uma ração dirigida às necessidades desta espécie; embora a produção em aquacultura seja ainda uma miragem, existem alguns casos de manutenção bem-sucedida de sardinha em cativeiro”.

Da Universidade de Copenhaga, na Dinamarca, Rute da Fonseca que também liderou este trabalho, afirma que “este trabalho é um exemplo claro do poder que abordagens genómicas de baixo custo têm na monotorização de recursos biológicos. Este recurso tecnológico, um primeiro olhar global sobre o genoma da sardinha, permitiu-nos já iniciar um trabalho em que estamos a avaliar a diversidade genética dos stocks selvagens no Atlântico e Mediterrâneo. Isto permitirá não só avaliar o impacto local das práticas de pesca, mas também perceber como potenciar os mecanismos naturais de recuperação das populações”.

Esta investigação envolveu também cientistas da Universidade de Tóquio no Japão, do Conselho Superior de Investigação Científica em Espanha e da Universidade de Oslo na Noruega e foi financiado pela Comissão de Coordenação da Região Norte.