Saltar refeições é frequentemente apontado como um desencadeante de enxaqueca. Mas será que o nosso apetite poderá estar envolvido no processo? Um estudo realizado por investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) sugere que sim. A investigação — desenvolvida em modelos in vivo e com o apoio da University of California San Francisco (EUA) e do King’s College London (Reino Unido) — descobriu aspetos chave na neurobiologia da enxaqueca, permitindo estabelecer uma relação entre a patologia e um recetor responsável pelo controlo do apetite, cuja atividade poderá estar desregulada antes e durante o episódio.

“Saltar refeições pode ser um comportamento voluntário ou uma consequência de perda de apetite. ou seja, um sintoma e não um efeito. É possível que esta desregulação deste sistema esteja na base das enxaquecas de indivíduos suscetíveis e que, em determinadas situações, estes pacientes confundam um sintoma com uma causa.”, explica Margarida Martins Oliveira, nutricionista e primeira autora do estudo que foi desenvolvido no âmbito de um programa doutoral na FMUP.

“Esta descoberta abre agora portas a outros estudos e à possibilidade de desenvolvimento de novos tratamentos através de fármacos.”, acrescenta a investigadora. A equipa de investigadores dará continuidade à investigação e a próxima fase do estudo passará por tentar perceber como é que o “desejo” por alimentos específicos – como o chocolate, por exemplo – se associa à fase premonitória da enxaqueca.

Além da integração de três centros de investigação internacionais de elevada notoriedade, a investigação foi coordenada por Peter J. Goadsby, especialista de renome mundial em cefaleias e autor do capítulo sobre o mesmo tema no famoso Harrison’s Principles of Internal Medicine – manual estudado pelos jovens médicos para ingressarem na especialidade médica.