Os dados clínicos indicam que a maioria das meningites neonatais não são diagnosticadas nem tratadas. (Foto: DR)

Uma equipa de investigadoras do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) e do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) da Universidade do Porto, em parceria com o Institut Pasteur e o ICVS, desenvolveram um modelo experimental para estudo da infeção neonatal com Streptococcus do grupo B. Ou seja, conseguiram recriar em ratinhos o processo de infeção da meningite neonatal que, nos humanos ocorre na altura do parto. O artigo foi publicado recentemente na prestigiada revista Nature Communications.

Até agora, a falta de um modelo que reproduzisse a patofisiologia da doença tem limitado o desenvolvimento de tratamentos eficazes. Ao reproduzir em ratinhos todo o processo de infeção observado em humanos, a equipa liderada por Paula Ferreira, docente e investigadora do ICBAS e do i3S ,abre caminho a novos estudos e a novas formas de diagnosticar e tratar a doença.

Paula Ferreira, docente e investigadora do ICBAS e do i3S, liderou a equipa de investigação. (Foto: DR)

Entre 15 a 40 por cento das mulheres grávidas estão colonizadas com Streptococcus do grupo B. A colonização materna é a fonte mais frequente de transmissão da bactéria aos recém-nascidos, causando pneumonia, septicémia e meningite. Os dados clínicos indicam que a maioria das meningites neonatais são subtis e por vezes assintomáticas, acabando por passar despercebidas, não diagnosticadas e não tratadas. No entanto, cerca de 10 por cento dos recém-nascidos infectados acabam por morrer e cerca de metade dos sobreviventes ficam com sequelas neurológicas permanentes, como por exemplo atrasos no desenvolvimento cognitivo.

Paula Ferreira explica que «faltava um bom modelo de estudo animal que permitisse estudar em detalhe os processos de infecção, para que se pudesse desenvolver formas de diagnóstico e de tratamento adequados». Por isso, a equipa centrou-se no desenvolvimento e caracterização de um modelo que mimetizasse a doença como esta ocorre nos humanos, de modo a permitir desenvolver em laboratório abordagens terapêuticas e preventivas.

Imagem de imunofluorescência permitindo visualizar a presença da bactéria GBS (verde) no tecido cerebral (a azul observam-se núcleos de neurónios).

Elva Andrade, investigadora do ICBAS e do i3S e primeira autora da publicação, explica que «neste trabalho, a bactéria é transmitida da mucosa vaginal de fêmeas gestantes para a sua descendência, causando septicémia e meningite neonatal, com consequentes sequelas neurológicas nos sobreviventes, à semelhança do que é observado nos humanos».

Teresa Summavielle, investigadora do i3S com vasta experiência em neurotoxicologia e desenvolvimento cerebral em modelos animais em condições adversas, foi responsável pela caracterização dos efeitos verificados no cérebro e no desenvolvimento das crias infectadas. “Em situações em que as crias sobrevivem à infecção conseguimos detetar problemas no desenvolvimento neurológico, que comprometem o desempenho de aprendizagem e memória na vida adulta dos ratinhos», diz.

Para a equipa, a utilização deste novo modelo experimental que reproduz as principais etapas da infecção causada por Streptococcus do grupo B em recém-nascidos passará a ser uma ferramenta essencial nos estudos da meningite neonatal induzida por esta bactéria.