A estratégia proposta por Maria Inês Almeida tem a vantagem de poder ser transposta para outras áreas da saúde, como a oncologia ou a medicina dentária. (Foto: DR)

Maria Inês Almeida, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde – i3S, da Universidade do Porto, foi uma das quatro investigadoras distinguidas na 13.ª edição das Medalhas de Honra L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência. Com um projeto de investigação centrado na regeneração óssea, denominado «RNA não-codificante: uma nova ferramenta terapêutica na regeneração óssea», a investigadora vai agora receber 15 mil euros que lhe permitirão continuar a explorar uma linha de investigação que conjuga biologia molecular e regeneração de tecidos.

Em termos muitos simples, a investigadora do i3S propõe-se explorar uma (grande) parte do ADN que se julgava ser lixo para conseguir regenerar o tecido ósseo. “Um dos aspetos mais intrigantes do genoma humano é o facto de menos de 2% do DNA codificar proteínas. O restante foi inicialmente considerado como “DNA lixo” por a sua função ser, em grande parte, desconhecida. No entanto, sabe-se, atualmente, que parte do DNA que não codifica proteína pode dar origem a moléculas de RNA-não codificante (ncRNA, do inglês non-coding RNAs), que podem desempenhar importantes funções nas células. Dentro desta classe incluem-se os microRNAs, que são muito pequenos, têm um papel fundamental na regulação dos genes e parecem ser promissores na regeneração de tecidos, nomeadamente na regeneração óssea”, explica Maria Inês Almeida.

«Esta função dos microRNAs como mediadores da regeneração do osso permanece, em grande parte, inexplorada e é isto que pretendo aprofundar, utilizando este RNA-não codificante para regular a atividade das células e, assim, estimular a regeneração óssea», acrescenta a investigadora. Idealmente, o RNA-não codificante, incluindo o microRNA, conseguirá «instruir» as células para construírem novo osso de uma forma natural.

A utilização de microRNAs, tanto para o estudo de mecanismos biológicos como para fins terapêuticos é particularmente vantajosa uma vez que um único microRNA, sublinha Maria Inês Almeida «é capaz de afetar vários processos biológicos em simultâneo. Ou seja, um único microRNA pode regular simultaneamente processos como a inflamação e a diferenciação celular, ambos cruciais para a regeneração de tecidos, e controlar todo o microambiente das lesões ósseas».

A utilização terapêutica de ncRNAs abre novos caminhos na reparação de grandes defeitos e fraturas ósseas e poderá, no futuro, ajudar a compreender e a travar doenças como a osteoporose. Além disso, .

Quatro jovens cientistas distinguidas

Mais de 80 investigadoras candidataram-se ao prémio de 15 mil euros, sendo que este ano a L’Oréal decidiu premiar quatro jovens cientistas, em vez das habituais três. Para além de Maria Inês Almeida foram distinguidas Ana Rita Marques, do Instituto Gulbenkian de Ciência, em Oeiras, Isabel Veiga, do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde da Universidade do Minho, e Patrícia Baptista, do Centro de Estudos em Inovação, Tecnologia e Políticas de Desenvolvimento do Instituto Superior Técnico.

Lançado em 2004, numa parceria da L’Oréal Portugal, Comissão Nacional da UNESCO e Fundação para a Ciência e a Tecnologia, este programa incentiva jovens investigadoras que efetuam a sua investigação em Portugal, já doutoradas e com idade até 35 anos, a prosseguir estudos originais e relevantes para a saúde e/ou o ambiente. Com estas quatro jovens, as Medalhas de Honra L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência totalizam 41 cientistas apoiadas no nosso país.

As Medalhas de Honra L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência inspiraram-se na iniciativa global For Women in Science, que o Grupo L’Oréal desenvolve desde antes da viragem do século, em parceira com a UNESCO, com a ideia de que «O Mundo precisa da Ciência e a Ciência precisa das Mulheres». Globalmente, desde 1998, as iniciativas que juntam a L’Oréal e a UNESCO já distinguiram mais de 2750 cientistas, em 115 países.

Sobre Maria Inês Almeida

Licenciada em Biologia pela Universidade do Minho, Maria Inês Almeida fez um estágio no Centro Médico da Universidade de Leiden, Holanda, e ingressou depois no Instituto de Investigação em Ciências da Vida e da Saúde (ICVS), da Universidade do Minho, onde trabalhou na área de microbiologia e investigação em cancro. Iniciou o doutoramento em 2009, tendo-se mudado para o MDAnderson Cancer Center (Universidade do Texas), considerado um dos melhores hospitais para tratamento de cancro do mundo, onde estudou os efeitos biológicos de microRNAs no cancro colorretal. Em 2013, iniciou o pós-doutoramento no 13S, mantendo-se na área da biologia molecular e continuando a estudar o papel dos microRNAs e das moléculas de RNA, mas agora na regeneração de tecidos.