João Paulo Teixeira, investigador do ISPUP e o único português que faz parte do Grupo de Trabalho da Agência Internacional para a Investigação do Cancro.

João Paulo Teixeira, da Unidade de Investigação em Epidemiologia (EPIUnit) do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), integrou recentemente o Grupo de Trabalho da Agência Internacional para a Investigação do Cancro (IARC na sua sigla inglesa) da Organização Mundial de Saúde, com o intuito de ajudar a identificar substâncias químicas, usadas nomeadamente em ambiente industrial, que podem aumentar o risco de cancro no ser humano. O objetivo último será a elaboração de um documento que identifique exposições ambientais nocivas para a saúde e que contribua para salvaguardar contextos laborais mais seguros e saudáveis.

O grupo de 23 peritos internacionais, do qual João Paulo Teixeira é o único português, reuniu nos dias 20 e 27 de março, na sede da IARC em Lyon (França), para analisar, a partir dos estudos científicos existentes, se determinados agentes ambientais podem aumentar o risco de cancro.

Os investigadores analisaram especificamente a influência do estireno na saúde humana. “O estireno é um solvente orgânico amplamente usado na indústria, particularmente no fabrico de polímeros e plásticos reforçados. Não obstante os benefícios da sua utilização, reconhece-se que o incremento da sua produção e utilização nos mais diversos setores económicos e a disseminação da sua aplicação, poderão potenciar efeitos adversos na saúde. É, por isso, fundamental que o contexto ocupacional (laboral) dedique especial atenção à vigilância da saúde dos trabalhadores expostos”, refere o investigador do ISPUP.

Desde 2002 que o estireno está classificado pela IARC como um possível cancerígeno para o ser humano, mas esta classificação é periodicamente reavaliada à luz de evidências científicas mais atuais. “A reavaliação é essencial para uma análise e gestão do risco em matéria de saúde”, adianta João Paulo Teixeira.

Na reunião de Lyon foram analisados e discutidos novos dados acerca da exposição ao estireno, os seus efeitos na saúde humana e animal, bem como os mecanismos que estão na base destes efeitos.

O resultado deste trabalho interdisciplinar vai ser publicado na monografia designada “IARC Monographs on the Evaluation of Carcinogenic Risks to Humans. Volume 121: Styrene, Styrene‐7,8‐oxide, and Quinoline”, que João Paulo Teixeira espera que seja “usada pelas agências nacionais de saúde como suporte científico ou referencial de orientação para as suas ações”.

O investigador, que foi convidado pela IARC pelo trabalho que tem desenvolvido nos últimos anos na área da toxicologia, sublinha que “este trabalho é uma boa oportunidade para consolidar a investigação em saúde ocupacional na Europa e no Mundo, ajudando a identificar e a prevenir agentes nocivos para a saúde”.

Desde 1971, a IARC avaliou mais de 1000 agentes, dos quais mais de 400 foram identificados como carcinogénicos, provavelmente carcinogénicos ou possivelmente carcinogénicos para humanos.