Por onde estão distribuídos anfíbios e répteis em Portugal? Como é possível ajudá-los a sobreviver nas estradas? Estas são algumas das perguntas a que Neftalí Sillero tem ajudado a responder nos últimos anos. Apaixonado pela biologia e também pela área geoespacial, este investigador da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), coordena projetos que põem no mapa várias espécies da fauna e da flora em Portugal. 

É o que está a fazer atualmente, por exemplo, no Parque Natural de Montesinho. Como investigador principal do MontObEO, Neftalí Sillero pretende desenvolver um mapa geral de extinção das espécies deste parque. No Centro de Investigação em Ciências Geo-Espaciais (CICGE), da FCUP, onde trabalha, coordenou também uma equipa da FCUP no LIFE LINES, um projeto pioneiro que ajudou a reduzir a mortalidade animal nas estradas

Os trabalhos de investigação que tem desenvolvido valeram-lhe um lugar, em 2020, numa lista da Universidade de Stanford no top 2% mundial dos cientistas mais citados em várias disciplinas. 

Natural de Salamanca, Espanha, foi também nessa cidade que se licenciou em Biologia (1998) e que concluiu o mestrado em Ciência na Ecologia (2002). Com a dissertação “Respuestas antidepredadoras en cinco especies de Lacertidae ibéricos”, o investigador da FCUP obteve o grau Excellent cum Laudem. Mais tarde, em 2006, haveria de repetir o feito na sua tese de doutoramento na Universidade de León. 

A sua chegada a Portugal deu-se em 2003 para trabalhar como bolseiro de investigação no Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, InBIO Laboratório Associado da Universidade do Porto (CIBIO-InBIO). Neste centro de investigação, ajudou na criação do Plano Nacional de Herpetofauna e Atlas de Anfíbios e Répteis em Portugal. 

Foi então que integrou, em 2007,  a equipa de investigação do CICGE na FCUP e assumiu também a presidência do Comitê de Mapeamento da Sociedade Europeia Herpetológica. Sete anos mais tarde, publicou, na revista científica Amphibia-Reptilia, o Novo Atlas de Anfíbios e Répteis da Europa. 

Para além da investigação, Neftalí Sillero partilha a sua paixão pela biologia espacial com os estudantes da FCUP nas aulas práticas nas áreas de Deteção Remota e de SIG aplicada às ciências naturais. Entre as áreas abordadas estão, por exemplo, a análise e identificação de padrões espaciais biológicos, usando técnicas como Sistemas de Informação Geográfica (SIG), Sensoriamento Remoto, Modelagem de Nicho Ecológico e Estatística Espacial. É, aliás, a elas que se dedica no seu dia a dia. Tudo para descobrir onde moram as espécies, como se distribuem, e como pode a ciência ajudar na sua conservação. 

– Naturalidade? Salamanca, Espanha. 

– Idade? 45 anos

– De que mais gosta na Universidade do Porto?

Da facilidade para desenvolver o meu trabalho e para estabelecer colaborações. Nunca tive nenhum problema no meu trabalho na U.Porto.

– De que menos gosta na Universidade do Porto?

Da excessiva burocracia. Já me aconteceu receber autorizações de pagamento depois do prazo de pagar, apesar de ter feito todo o processo com tempo suficiente. Também, os investigadores da FCT, acabamos por não estar completamente integrados na Universidade.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto? 

Integrar mais os investigadores da FCT. Aqueles investigadores que não conseguem participar na docência têm grandes dificuldades para orientar estudantes, o que resulta em menos orientações de mestrados e doutoramentos. Isto no fim prejudica a U.Porto porque são publicados menos artigos.

– Como prefere passar os tempos livres?

A desenhar e ler.

Um livro preferido?

Muitos, mas Crime e Castigo de Dostoiévski deixou uma grande marca.

Um disco/músico preferido?

Joaquín Rodrigo, Concierto de Aranjuez.

Um prato preferido?

Qualquer coisa com batatas. Ou só batatas, de qualquer forma.

Nefatlí Sillero é apaixonado por biologia e pela área geoespacial.

Um filme preferido?

Também muitos. Mas 2001: A Space Odyssey, de Stanley Kubrick. é um filme que nunca me canso de ver.

– Uma viagem de sonho?

Subir o Kilimanjaro. Também gostava de ver o nosso planeta desde o espaço, mas essa viagem é mais difícil.

Um objetivo de vida?

Ser feliz e boa pessoa.

Uma inspiração?

Cosmos, de Carl Sagan. É possível que seja hoje cientista por causa de Sagan.

O projeto da sua vida…

Fazer ciência. Perceber como funciona a natureza. Melhorar a saúde do planeta.

Como surgiu o seu gosto pela área geoespacial?
Surgiu durante o meu mestrado na Universidad de Salamanca, quando conheci pessoas envolvidas com os SIG e a Deteção Remota no STIG-Servicio Transfronterizo de Información Geográfica, que tinha um centro gémeo na Universidade de Covilhã. Essas pessoas não só me formaram nos SIG e na Deteção Remota, mas também me ensinaram a trabalhar e ser melhor. Fiz o doutoramento na Universidad de León em parceria com o CIBIO na área da aplicação dos SIG e a Deteção Remota na biogeografia de anfíbios e répteis, com pessoas que vinham do STIG (Eduardo García Meléndez) e com um cientista pós-doutoral do CIBIO (José Carlos Brito). E fui o primeiro a aplicar a Deteção Remota nestes grupos de animais na Península Ibérica.