idosos

Estudo permitiu identificar grandes variações na sobrevivência dos idosos dos diferentes países da Europa. (Foto: DR)

Os idosos portugueses apresentam a taxa de sobrevivência mais baixa entre os 18 países da Europa avaliados num estudo desenvolvido por uma equipa de investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) e do Instituto de Saúde Pública da U.Porto (ISPUP), do qual resultou um mapa inédito com o cenário de sobrevivência no continente europeu durante os últimos 20 anos.

Publicado no prestigiado Journal of Epidemiology and Community Health, este estudo permitiu concluir que “dentro do território nacional, as assimetrias regionais não são tão evidentes como em países como Espanha ou o Reino Unido”. Ainda assim, “é possível verificar que as “taxas mais altas de sobrevivência se encontram na zona de Lisboa, mais especificamente nos municípios da linha de Cascais”, explica Ana Isabel Ribeiro, primeira autora do artigo. Por outro lado, as taxas menos boas encontram-se nos municípios do Alentejo, Douro Interior e nas Regiões Autónomas, com particular incidência nos Açores, que regista a taxa mais baixa de sobrevivência da população idosa.

De acordo com a investigadora e estudante de doutoramento da Faculdade de Medicina da U.Porto (FMUP), “estes dados têm muito a ver com as questões socioeconómicas da população, mas estamos, neste momento, a investigar os fatores que podem explicar estas taxas em Portugal. É a próxima etapa”, acrescenta.

Em relação aos restantes países que integram o estudo, o norte da Espanha, nordeste da Itália, e sul e oeste da França são as regiões onde os idosos têm uma vida mais prolongada, ao contrário da Holanda, Escandinávia ou Reino Unido. O Reino Unido tem mesmo a maior concentração de população nas regiões onde a idade de sobrevivência é mais baixa.

Ana Isabel Ribeiro é a primeira autora do estudo (Foto: DR)

Para chegar a estes resultados, a equipa liderada por Fátima Pina, investigadora do i3S e professora da FMUP, analisou a taxa de sobrevivência ao fim de 10 anos da população na faixa etária de 75 a 84 anos de idade para avaliar os que atingem a faixa de 85 a 94 anos de idade. O registo abrangeu 313 296 725 pessoas e teve em conta 4404 pequenas áreas de 18 países da Europa. A Grécia, Chipre, Alemanha e Irlanda, bem como os recém-estados membros da EU foram excluídos da análise conduzida pela equipa do Porto devido à indisponibilidade de dados sobre a população muito idosa desses países.

Tendo em conta que a idade de sobrevivência contribui para os cálculos de esperança de vida das regiões, os dados obtidos são muito importantes para a gestão das dinâmicas sociais numa Europa envelhecida. Muitos fatores influenciam a idade de sobrevivência dos idosos, dizem os investigadores, incluindo fatores genéticos, estilos de vida, poluição, assim como o acesso a cuidados de saúde. Uma das causas mais frequentes no desfecho destes casos, acima dos 85 anos, são as doenças cardiovasculares, responsáveis por quatro em cada 10 mortes no espaço europeu.

Para Ana Isabel Ribeiro, “o mais provável é que os padrões observados resultem da combinação de dois fatores: a pobreza, que explica a baixa longevidade em Portugal, sul de Espanha e de Itália, ou nas regiões pós-industriais, por exemplo; ou comportamentos pouco saudáveis, como o tabaco ou má alimentação, que explicariam a baixa taxa de sobrevivência em determinadas áreas como a Escandinávia ou a Holanda”.

O estudo permitiu ainda concluir que a taxa de sobrevivência é maior entre as mulheres do que nos homens. Com efeito, a proporção de população compreendida entre os 75 e os 84 anos em 2001 que sobreviveu mais 10 anos foi de 27% para os homens e 40% para as mulheres. Em 2011, o rácio de sobrevivência aumentou consideravelmente, atingindo 34% para os homens e 47% nas mulheres.