Ricardo Pereira, Alberto Pacheco e Gonçalo Paredes vão defender as cores de Portugal e da U.Porto na grande final do ICPC 2019. (Foto: U.Porto)

Têm 20 anos, são estudantes da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) e adoram programação. Alberto Pacheco, estudante de Matemática, Gonçalo Paredes e Ricardo Pereira, estudantes de Ciência de Computadores, integram a equipa da U.Porto que vai levar Portugal pela primeira vez à grande final mundial do International Collegiate Programming Contest (ICPC), o maior e mais antigo concurso de programação do mundo, que este ano se realiza na Alfândega do Porto, a 4 de abril, com organização da U.Porto.

“O meu interesse por este tipo de competições nasceu no momento em que o Gonçalo me contou que elas existiam”, começa por contar Alberto, ao tentar localizar a origem do seu interesse por programação e pelas competições em que tem participado. Ricardo concorre: “foi mais ou menos a convite do Gonçalo que também comecei a participar.” E a curiosidade de Gonçalo, de onde vem? “Surgiu do meu irmão, que ele é que estava nestas competições, ele é que estava neste curso”, o de Ciência de Computadores, que agora também Gonçalo frequenta, no terceiro ano da licenciatura.

As competições de que Gonçalo Paredes fala são, por exemplo, as Olimpíadas de Informática, nas quais venceu a eliminatória nacional de 2016, organizada pela FCUP. Ainda como aluno do ensino secundário, viajou à distante Kazan, na Rússia, para representar Portugal nas Olimpíadas Internacionais de Informática, entre uma elite de 300 jovens de 80 países diferentes. De lá, trouxe para Portugal uma medalha – a de bronze –, passados precisamente quatro anos desde a última vez que um aluno português o tinha feito: Pedro Paredes, o seu irmão. Já na altura, este jovem, fã confesso de jogos de computador, futebol americano e hóquei no gelo, afirmava o seu interesse em estudar Ciência de Computadores. Hoje, admite que essa prova, como outras em que também participou, tiveram uma grande influência na hora hora de escolher o curso. Isso e também o programa que a licenciatura da FCUP oferece, que Gonçalo considera ter “uma forte componente algorítmica”, entre outros temas que o apaixonam.

E foi Gonçalo quem convenceu os colegas. “Ao inicio, foi ele que me deu a introdução teórica à área. Depois, gostei da maneira como as coisas funcionavam e de resolver problemas e do estilo de teoria e matérias envolvidas”, conta Ricardo Pereira, natural de Guimarães. O passo seguinte foi o mais lógico: “decidi entrar também no curso, para aprender mais sobre a área e sobre aquilo que havia para saber.”

Já Alberto Pacheco vem da Matemática. No mesmo ano em que Gonçalo brilhou em Kazan, o gondomarense arrecadava a medalha de ouro das Olimpíadas Portuguesas de Matemática em 2016 e depois, em Hong Kong, nas Olimpíadas Internacionais, obteria uma menção honrosa. Antes disso, já se tinha destacado em competições Ibero-americanas e da CPLP. Nesse ano, ao Diário de Notícias, confessava que sempre teve “uma grande intuição matemática.” Daí que tenha sido, diz agora, “mais ou menos natural fazer a transição” para a programação. Como “caloiro” da licenciatura em Matemática da FCUP, já venceu o Prémio Incentivo, tal como, de resto, o seu amigo Gonçalo, pela distinção nas notas em ano de estreia na instituição.

Daí que nenhum destes três talentosos programadores seja propriamente um novato. Como os três já tinham participado em várias competições, o “passo lógico”, recorda Ricardo, seria colocar à prova o engenho do trio, agora a competir em equipa, na competição que vieram a descobrir na faculdade: o ICPC. O resto foi simples: “formámos equipa, participámos, qualificámo-nos para as regionais europeias, em Paris, onde obtivemos medalha de bronze. E vamos às finais mundiais este ano, pela primeira vez.” Pela primeira vez, sim, porque esta é já a melhor prestação de sempre de uma equipa portuguesa no maior concurso mundial de programação. Nunca antes os estudantes portugueses haviam atingido  a grande final mundial do concurso que reúne os grandes especialistas de amanhã, no campo da programação e da tecnologia.

A experiência parisiense revelou-se um sucesso em toda a linha: “o ambiente de prova é sempre muito interessante. Foi agradável vermos pessoas que já tínhamos conhecido anteriormente, participantes de outros países, nomeadamente de França, colegas nossos.” E, claro, “a prova em si não correu mal.”

Gonçalo também se sentiu muito entusiasmado pelo espírito competitivo do ICPC, e o facto de estarem os três em representação da sua faculdade e da U.Porto, entre tantas outras universidades recheadas de talento, nunca foi um fardo, antes uma motivação. O formato da prova também foi desafiante: “O facto de haver 12 problemas em 5 horas é um desafio difícil e que requer trabalho e trabalho de equipa e de coordenação, e de criatividade para resolver os problemas.” Ele que, como afirmou em 2016 ao Público, sempre preferiu isso a “estudar, decorar e despejar” teoria.

A hora das decisões

Quanto ao que aí vem, a grande final do ICPC, os três descrevem o que sentem, cautelosos: é uma “responsabilidade e um motivo de orgulho.” Por outro lado, uma primeira vez é uma primeira vez. “Há quantos anos é que Portugal participava na Eurovisão?”, pergunta Alberto aos colegas, entre sorrisos.

Alberto relembra que o trio ainda está no terceiro ano da licenciatura, mas que os seus adversários poderão já estar no quinto ano de curso, de acordo com as regras do concurso. Por isso mesmo, perante equipas russas ou chinesas e universidades que têm já um palmarés considerável no ICPC, alcançar uma medalha  seria nada menos do que “um feito milagroso”, confessa.

Mas nem por isso estes jovens programadores pretendem baixar demasiado a fasquia. De facto, querem levar bem longe as cores da Universidade e da faculdade, que até levam no nome que escolheram para a equipa: “FCUP1”. Afirma Alberto, sem receio: “estar acima do meio da tabela, ficar à frente das outras equipas europeias já era um bom começo, visto que nós fomos medalha de bronze [na eliminatória de Paris]. Na final, teoricamente, devíamos ser a pior equipa da nossa região a ir à final.” E, portanto, conclui com confiança: “o nosso objetivo é mostrar que não é esse o caso!”

A “jogar em casa”, os estudantes vivem com expectativa os últimos dias antes da semana em que o Porto se vai tornar a capital mundial da programação. “Vai ser engraçado, vamos visitar a cidade pela qual passamos todos os dias”, comenta Gonçalo, “e também vamos ter a oportunidade de, além de conviver com todos os outros participantes que têm este interesse pela programação. É uma questão de aproveitar, conhecer o resto das pessoas e desfrutar.”