Ana Freire (à dir.) é primeira autora do trabalho desenvolvido no seio da equipa do i3S coordenada por Perpétua Pinto-do-Ó (à esq.) (Foto: DR)

Um importante avanço para terapias celulares na regeneração de tecido cardíaco acaba de ser publicado por uma equipa do i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto na revista científica Stem Cell Reports. Os investigadores demonstraram que a molécula Hes5 desempenha um papel crucial na decisão das células muito iniciais do desenvolvimento se diferenciarem em células cardíacas ou, por oposição, em células do sangue. Isto significa que conseguir reativar esta via de diferenciação nos adultos que sofreram um enfarte do miocárdio poderá constituir uma via para a regeneração do tecido cardíaco.

Nas fases iniciais do desenvolvimento do nosso organismo as células vão-se diferenciando e vão-se especializando em resposta a um conjunto de sinais complexos que determinam o seu futuro. Nestas fases, as células que darão origem às células cardíacas provêm do mesmo grupo de células que darão origem às células do sangue. Com este trabalho, «provamos que o efector da via Notch, designado por Hes5, regula o processo de especificação para células progenitoras cardíacas, enquanto bloqueia a informação para se tornarem células do sangue», afirma Perpétua Pinto-do-Ó, coordenadora da equipa. Na verdade suspeitava-se que deveria ser um dos inúmeros sinais de uma complexa rede, a chamada via de sinalização Notch, o responsável pela diferenciação dessas duas linhas, mas desconhecia-se qual deles.

A via de sinalização Notch é importante para a formação do coração, mas não é necessária no coração adulto. No entanto, «em condição de doença, como por exemplo de enfarte do miocárdio, ocorre a reativação desta via para que processos de reparação possam ser iniciados”, afirma Ana Freire, primeira autora do trabalho.

Esta investigadora adianta que «compreender a rede molecular complexa de informação e a identificação dos seus principais efetores, dá-nos pistas essenciais para que possamos desencadear uma resposta de reparação eficiente do tecido cardíaco afetado». O conhecimento de moléculas que determinam a formação das células essenciais à função cardíaca poderá traduzir-se em futuros protocolos para, a partir de células estaminais, gerar in vitro, e de forma mais eficiente, terapias para regenerar o tecido cardíaco.