i3S - grupo de investigação «Parasite Disease»

O grupo, liderado por Anabela Cordeiro da Silva (ao centro), identificou uma enzima essencial para a sobrevivência e virulência do parasita responsável pela leishmaniose. (Foto: i3S)

O grupo de investigação «Parasite Disease», do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) da Universidade do Porto, é a primeira equipa portuguesa a integrar a European Lead Factory (ELF), juntando-se assim à elite europeia da investigação. O grupo identificou uma enzima essencial para a sobrevivência e virulência do parasita responsável pela leishmaniose e apresentou uma proposta que foi selecionada pela ELF, uma plataforma que agrega bibliotecas de compostos (mais de 400 mil) e que permite fazer uma triagem em larga escala.

Ao final de um ano (o tempo que demora a fazer o screening ou triagem), o grupo, liderado pela investigadora Anabela Cordeiro da Silva, vai receber uma lista com as 50 moléculas mais ativas e mais promissoras com capacidade de inibir a função da enzima que identificaram inicialmente. O objetivo, explica Joana Tavares, outra das investigadoras envolvida no projeto, “é encontrar compostos com atividade antiparasitária e que possam ser, no futuro, usados para produzir medicamentos”.

O processo de validação desta enzima como potencial alvo terapêutico iniciou em 2005 e demorou cerca de dez anos. “É um trabalho muito moroso”, sublinha Anabela Cordeiro da Silva. Até agora, os inibidores que o grupo jáencontrou “apresentam toxicidade. Até funcionam nos ratinhos, mas não reúnem as características necessárias para poderem avançar à fase seguinte», acrescenta Joana Tavares. Daí a importância da ELF: “Temos esperança de encontrar compostos mais potentes, mais seletivos, menos tóxicos e alargar as opções terapêuticas disponíveis. Como não existe nenhuma vacina contra a leishmaniose para uso humano, o controlo da doença é efetuado exclusivamente através de medicamentos. Contudo, o repertório de fármacos disponível é muito restrito e apresenta inúmeras limitações, nomeadamente, efeitos adversos e resistências”, destaca a investigadora.

As investigadoras estão animadas com a escolha da ELF e acreditam que as circunstâncias atuais também ajudaram. “Existe ultimamente uma maior sensibilidade para estas doenças”, aponta Anabela Cordeiro da Silva. Houve recentemente um foco infecioso em Espanha e, adianta, “existe um compromisso na Europa para investir em doenças tropicais negligenciadas (ou seja, que têm tido pouco investimento). Os próprios Estados Unidos também começaram a ser mais sensíveis ao problema da leishmaniose depois dos seus soldados que estiveram no Afeganistão terem vindo infetados”. «Esta é uma oportunidade inestimável para aplicar os resultados da investigação fundamental e contribuir para encontrar novas opções terapêuticas para a leishmaniose», acrescenta Joana Tavares. É importante referir que apresentação desta candidatura só foi possível com o apoio da Biosciences Secreening Unit do i3S.

A leishmaniose é uma doença causada pelo parasita Leishmania. É classificada como uma doença tropical negligenciada encontrada em países tropicais, subtropicais e do sul da Europa. A infeção é transmitida através da picada de pequenas moscas da areia que se alimentam de sangue e que estão infetadas. Entre as várias formas de leishmaniose, a leishmaniose visceral é a forma mais grave da doença, que é fatal quando não é tratada.