Num estudo publicado na revista Nature, uma equipa internacional da qual fazem parte as investigadoras Sónia Melo e Carolina Ruivo, do i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto, demonstra a possibilidade de utilizar exossomas (nanovesículas produzidas por todas as células humanas) como veículos para tratamento de tumores do pâncreas. Trata-se de um novo método de tratamento que potencialmente pode dar aos pacientes mais tempo de vida e ser uma alternativa para a quimioterapia. Os ensaios clínicos de fase I em pacientes com cancro do pâncreas já foram aprovados e vão começar nos próximos meses.

Os exossomas podem ser um meio privilegiado para tratamento dos tumores do pâncreas porque constituem um mecanismo «natural» de comunicação entre células humanas e demonstraram neste estudo pré-clínico uma grande eficiência. Mais especificamente, e segundo explica a investigadora Sónia Melo, «os exossomas conseguem entregar inibidores (terapias) que têm como alvo específico uma das mutações mais comuns em pacientes com cancro do pâncreas no gene KRAS».

De acordo com as investigadoras, cerca de 70% dos pacientes com cancro no pâncreas têm mutação no gene KRAS, que é «muito difícil de desligar», não por falta de ferramentas para o fazer, mas devido à localização deste órgão, «não sendo fácil encontrar uma terapia que chegue efetivamente ao local». Estes exossomas modificados, que carregam a terapia no seu interior, contêm à superfície uma proteína que consegue torná-los «invisíveis» ao sistema imunitário, não sendo assim «destruídos» pelo mesmo.

Método de tratamento foi inicialmente testado em ratos. Os ensaios clínicos em pacientes com cancro do pâncreas devem avançar ainda em 2017.

Devido à falta de sintomas e, consequentemente ao diagnóstico tardio, quando o cancro no pâncreas é detetado, «a esperança média de vida dos pacientes é de seis meses», pois em 80 por cento dos casos já tem metástases noutros órgãos, sublinha Sónia Melo. Mas quando detetado cedo, «é um tipo de cancro muito fácil de curar», visto tratar-se de um órgão «fácil de remover» ou apenas retirar a parte afetada. Noutros tipos de cancro a terapia dirigida tem tido efeitos na diminuição da taxa de mortalidade, pelo que este estudo, por se centrar num tratamento dirigido ao cancro do pâncreas, traz alguma esperança.

O método de tratamento desenvolvido por esta equipa internacional foi inicialmente testado em ratos, estando neste momento a ser utilizado em macacos para, até ao final do ano, passarem aos ensaios clínicos de fase I em pacientes com cancro do pâncreas.

Esta investigação começou em 2013 e, para além de Sónia Melo e Carolina Ruivo, do i3S , conta com a participação de sete investigadores do MD Anderson Cancer Center, da Universidade do Texas, em Houston (Estados Unidos)