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As florestas de algas marinhas fornecem alimento e habitat essenciais a uma grande diversidade de espécies. (Foto: DR)

Um estudo publicado esta semana na revista Proceedings of the National Academy of Sciences sobre as florestas de algas marinhas (kelps) a nível global , que contou com a participação de Isabel Sousa Pinto, investigadora do Centro Interdisciplinar de Investigação Científica e Ambiental da U. Porto(CIIMAR) e docente da Faculdade de Ciências da U.Porto (FCUP), demonstra, de forma algo surpreendente, que este importante ecossistema tem mantido uma relativa estabilidade nas últimas décadas. Este estudo, que reúne meio século de dados mundiais,  mostrou que, apesar de se verificarem declínios claros e preocupantes em 38% das regiões analisadas, houve algumas regiões onde os kelps aumentaram (27%) e outras zonas onde nenhuma mudança líquida foi observada (35%).

As florestas de algas marinhas são ecossistemas muito ricos, que fornecem alimento e habitat essenciais a uma grande diversidade de espécies. As ameaças a estes importantes ecossistemas são muitas e incluem a poluição, pesca, sobre-exploração e alterações climáticas. “Os nossos resultados foram surpreendentes, esperávamos que as florestas de algas tivessem diminuído globalmente, como tantas outras espécies marinhas, mas o que realmente encontramos foi uma história muito mais complexa. Descobrimos muitas populações em declínio, mas também muitos lugares onde as suas abundâncias se têm mantido estáveis ou estão mesmo a aumentar, mostrando que as alterações ambientais e mudanças climáticas não afetaram estas florestas da mesma maneira em todos os lugares”, diz Kira Krumhansl, da Universidade Simon Fraser no Canadá, principal autora do artigo.

Estes resultados contrastam com a situação de muitas outras espécies e ecossistemas marinhos, como os corais, em claro declínio à escala global. “Uma floresta inteira de algas gigantes pode desaparecer numa só estação, e é tentador reagir a uma mudança tão dramática. Este estudo vem agora mostrar que estas algas marinhas podem também recuperar de forma rápida, o que explica a relativa estabilidade à escala global nas últimas décadas”, refere Andrew Rassweiler, da Universidade Estadual da Flórida, e co-autor do estudo.

O estudo foi coordenado de uma equipa internacional de 37 cientistas, que analisaram as tendências de abundância ao longo do último meio século das florestas de algas marinhas de 34 regiões do globo, com 1138 locais monitorizados. Apesar da impressionante coleção de dados compilados, o estudo revela também a grande falta de dados temporais em muitas regiões do globo, incluindo em Portugal, onde a evolução das abundâncias destas algas não pode ser determinada por estes métodos. “Sabemos que houve um recuo muito considerável das florestas de kelp no nosso país nas últimas décadas, mas não tínhamos dados quantitativos para provar essa regressão e por isso o nosso país não foi considerado para esta análise”, refere Isabel Sousa Pinto.

“Uma análise a nível europeu que publicámos no ano passado e que utilizou outros métodos, como dados qualitativos e opinião de especialistas, revelou também um padrão global de decréscimo, apesar de assimétrico, destas florestas na Europa. A falta de dados quantitativos em muitas regiões a nível mundial pode estar assim a contribuir para uma visão neste estudo mais otimista do que a realidade” remata a docente e investigadora da U.Porto.

Jarrett Byrnes, da UMASS Boston, conclui “Honestamente, eu esperava que este estudo fosse uma história de más notícias, e na verdade há muitos lugares ao redor do mundo onde kelps estão em declínio. Mas esta alga marinha é um verdadeiro fenómeno de resiliência. Em muitos lugares, ela conseguiu manter-se apesar das mudanças ambientais à sua volta. É muito emocionante! O que é preocupante, no entanto, é que em um terço das regiões do mundo que estudamos, até mesmo as florestas de kelp não foram capazes de resistir às pressões de um mundo em mudança. Os Kelps podem não ser o canário na mina de carvão que alertam de forma precoce para os efeitos das mudanças ambientais, mas a sua perda pode ser pelo contrário um sinal de que finalmente ultrapassamos sem retorno a borda do precipício na proteção dos nossos oceanos.”