Frederico Francisco colabora com o Centro de Física do Porto / FCUP desde 2015. (Foto: DR)

O investigador Frederico Francisco, do Centro de Física do Porto (CFP), sediado no Departamento de Física e Astronomia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), vai ser o primeiro português a ser galardoado com a prestigiada Medalha Zeldovich 2018, atribuída pela Commission for Space Research (COSPAR) e pela Academia Russa de Ciências.

A distinção, entregue de dois em dois anos a jovens investigadores que se destaquem pelos seus contributos de excelência no domínio da Física, reconhece os trabalhos que o físico, de 31 anos, vem desenvolvendo desde o doutoramento, cuja tese – premiada em 2015 pela Springer Verlag – dedicou ao tema das «Anomalias de Trajetória em Sondas Interplanetárias».

“Quando falamos de «anomalias de trajetória», estamos a falar de possíveis contradições à teoria gravitacional de Einstein. O caso mais conhecido dos últimos 20 anos foi o da “anomalia da Pioneer”, que motivou muitas propostas de nova Física, novas forças e alterações à relatividade geral. Aquilo que o meu trabalho demonstrou foi que essa «anomalia» era explicada pela aceleração gerada pelas emissões de calor da própria sonda”, explica Frederico Francisco.

Na base da distinção está ainda a participação do investigador num estudo sobre a estimativa da aceleração de origem térmica, que permitiu confirmar a experiência gravitacional realizada pela sonda Cassini aquando da sua viagem até a lua Titã de Saturno. “Durante esta experiência foi detetada uma aceleração que se inferiu ser de origem não gravitacional. Com a utilização do nosso modelo térmico, foi possível confirmar a existência e o valor dessa aceleração, permitindo a validação do resultado da experiência gravitacional realizada e confirmando, mais uma vez a teoria da Relatividade Geral de Einstein”.

Para Frederico Francisco, a conquista da Medalha Zeldovich constitui um motivo de “satisfação pelo reconhecimento do meu trabalho”, mas  também “um importante alento para continuar a vencer os obstáculos que todos saber existir à atividade científica em Portugal. Falo dos obstáculos que todos conhecemos no financiamento, no acesso às carreiras e na imprevisibilidade das regras e dos calendários. Dá-me força para continuar a fazer ciência, que é algo em que eu gosto verdadeiramente de trabalhar”, diz.

Natural de Cascais, Frederico Francisco doutorou-se em Física no instituto Superior Técnico, sob a supervisão de Orfeu Bertolami (Professor Catedrático do Departamento de Física e Astronomia da FCUP) e de Paulo Gil (IST). Na FCUP, onde chegou em 2015, tem estado envolvido em inúmeros projetos no CFP enquanto colaborador e, desde abril de 2017, como bolseiro de pós-doutoramento.

Entre os temas que vem trabalhando incluem-se o da putativa anomalia dos voos rasantes, os micro e nano satélites, ou a aceleração de origem térmica na viagem da sonda New Horizons para Plutão. Mais recentemente, participou na construção de um modelo físico que visa compreender a transição do Sistema Terrestre do Holoceno para o Antropoceno.

O investigador português vai receber a Medalha Zeldovich durante a 42.ª Assembleia Científica da COSPAR, que vai decorrer de 14 a 22 de julho, na Califórnia (EUA).

As Medalhas Zeldovich foram criadas em 1990, em memória do académico e astrofísico russo Yakov B. Zeldovich.