O desenho Rapariga lavando os pés a uma criança, da autoria de Leonardo da Vinci, e pertencente ao espólio do Museu da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP), vai integrar a exposição comemorativa dos 500 anos  da morte do mestre italiano da Renascença, a inaugurar no próximo outono, no Museu do Louvre, em Paris.

Desenhado em 1483, aquela que é a única obra de Da Vinci conhecida em Portugal terá chegado ao Porto no século XIX, pela mão dos estudantes bolseiros da Academia Portuense de Belas-Artes que então frequentavam as academias italianas. Contudo, seria preciso esperar até 1977 para ver a sua “paternidade” oficialmente reconhecida (ver abaixo). Desde então, tem estado em itinerância por alguns dos mais importantes museus do mundo, de Madrid a Paris e Nova Iorque, passando pela Holanda, onde está atualmente em exibição.

É nesse âmbito que o pequeno – tem apenas 185 x 114 mm – mas valioso – está avaliado em cerca de um milhão de euros – desenho vai viajar até ao museu mais visitado do mundo, “casa” de algumas  das mais emblemáticas obras de Da Vinci, como A Virgem dos Rochedos ou a incontornável Mona Lisa. Ali, juntar-se-á a “um conjunto único de obras que só o Louvre poderia reunir, para além da sua excepcional coleção de pinturas e desenhos pelo mestre italiano”, pode ler-se na página da instituição.

Ainda segundo o Louvre, a exposição vai incluir uma “grande seleção de desenhos e um pequeno, mas significativo, grupo de pinturas e esculturas que vão fornecer algum contexto tangível”.

Um mistério com 500 anos..

O desenho Rapariga lavando os pés a uma criança, cuja autoria chegou a ser erroneamente atribuída a Raffaellino de Reggio, terá sido exposto, pela primeira vez, na então Escola SUperior de Belas Artes do Porto (ESBAP), em 1962. Três anos mais tarde, em 1965, a identificação do verdadeiro autor do desenho é feita por Philipe Pouncey, curador e historiador de arte especialista em desenho italiano, cuja  carreira inclui passagens pela National Gallery (Londres), a National Library of Wales, o British Museum, ou a leiloeira Sotheby’s, da qual foi diretor.

Através de uma fotografia, e com base em análises comparativas com outros desenhos de Leonardo da Vinci do British Museum, Philipe Pouncey notaria “o mesmo sentido plástico no tratamento compacto do grupo, os mesmos tipos faciais, o mesmo desenho esquemático e ainda a mesma combinação de manchas de aguada com um rápido riscar de mão esquerda de traços paralelos”. Estes pormenores inserem-se no estilo do criador italiano, a que se junta a transparência de uma inscrição em espelho (da esquerda para a direita) no verso da folha – modo de escrita característico de Leonardo – como fundamento para a atribuição da autoria.

Mas a confirmação cabal só viria em 1977, através do exame do original. No ano seguinte, a descoberta foi anunciada internacionalmente num artigo de Philipe Pouncey publicado na revista Apollo (Londres), com o título “Un unknown drawing by Leonardo da Vinci”.