A investigação recomenda que os cuidados de saúde primários tenham guidelines específicas para indivíduos que vivam com uma doença crónica já há muitos anos, como é o caso das pessoas asmáticas.

Um estudo da Unidade de Investigação em Epidemiologia (EPIUnit) do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) chama a atenção para a necessidade de os centros de saúde disporem de cuidados integrados e mais centrados nas pessoas com asma para que estas consigam controlar melhor as crises agudas desta doença crónica e minimizar o impacto negativo da patologia nas suas vidas.

A investigação, publicada na revista International Journal of Integrative Care, “procurou explorar o modo como os doentes que vivem com asma usam as suas redes de suporte, nomeadamente a família, os amigos, os profissionais de saúde e os média para gerirem esta doença crónica”, explica Liliana Abreu, primeira autora da investigação, coordenada pela investigadora do ISPUP, Susana Silva.

“Queríamos perceber qual o papel que estes vários mediadores em saúde desempenham enquanto facilitadores de gestão de uma doença crónica como a asma e qual o tipo de auxílio que prestam, tanto a nível emocional como funcional”, adianta a investigadora.

O estudo, de caráter qualitativo e transversal, envolveu indivíduos asmáticos de um Centro de Saúde da cidade do Porto e verificou que aqueles que tinham asma desde a infância demonstraram ter mais dificuldade em controlar as crises agudas de asma. Já aqueles que diziam que a asma tinha um baixo impacto nas suas vidas possuíam uma rede de mediadores mais alargada, caracterizada por uma grande dependência do médico de família e dos familiares.

Para Liliana Abreu, “uma vez que um grupo significativo de pessoas vive com asma desde a infância, seria importante haver reavaliações mais frequentes da sua condição de saúde, especificamente da asma. Por esse facto é que recomendamos que os cuidados de saúde primários tenham guidelines específicas para indivíduos que vivam com uma doença crónica já há muitos anos como é o caso das pessoas pertencentes a este grupo”.

A prestação de cuidados de saúde mais centrados em pessoas com asma exigiria, por exemplo, a realização de reavaliações anuais sobre o estado da asma do indivíduo, tentando-se perceber qual a frequência das crises agudas, os sintomas existentes, a rede de suporte que utilizam e a medicação que tomam.

“Poderia ser importante apostar em intervenções educativas junto das pessoas que revelam maior dificuldade em controlar as crises mais agudas de asma e fazer algumas intervenções personalizadas que ajudem a minimizar o impacto negativo da doença nas suas vidas”, refere a investigadora.

Outra sugestão passaria pela “criação de grupos de apoio constituídos por indivíduos que também têm a mesma condição crónica e que possam discutir o problema e apresentar algumas soluções”, remata.

Apesar dos avanços registados nas últimas duas décadas a nível da terapêutica e dos cuidados centrados nos doentes com asma, esta doença crónica ainda é, muitas vezes, mal gerida, com os asmáticos a sentirem dificuldades em aceder aos cuidados de saúde, em aderirem aos tratamentos e em gerirem a própria doença. Este estudo chama, por isso, a atenção para a necessidade de se apostar nos cuidados de saúde mais centrados nos doentes crónicos.

O estudo, intitulado The Role of Distributed Health Literacy in Asthma Integrated Care: A Public Medical Context from Portugal, é também assinado pelos investigadores João Arriscado Nunes e Peter Taylor e pode ser consultado aqui.