Bebés prematuros alimentados com leite materno têm menor número de problemas de saúde.

Os bebés que nascem com menos de 32 semanas de idade gestacional em Portugal e são alimentados com leite materno têm menor probabilidade de voltarem a ser internados. Um estudo desenvolvido pelo Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) revela que os que apenas estavam a receber leite artificial, à data da alta hospitalar da Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais, têm duas vezes mais risco de serem reinternados durante o primeiro ano de vida, quando comparados com os bebés que estavam a receber leite materno.

Verifica-se ainda que cerca de um terço dos bebés muito prematuros avaliados teve algum problema de saúde que implicou pelo menos um internamento hospitalar no primeiro ano de vida. O principal motivo reportado pelos pais está diretamente relacionado com problemas respiratórios.

Estes são os principais resultados extraídos da primeira coorte (grupo de pessoas que nasceram na mesma altura e que têm certas características em comum) portuguesa de recém-nascidos muito pré-termo, criada no âmbito do projeto europeu EPICE (Effective Perinatal Intensive Care in Europe: translating knowledge into evidence-based practice), cujo investigador principal em Portugal é Henrique Barros, Presidente do ISPUP.

Numa altura em que se aproxima o Dia Mundial da Prematuridade – 17 de novembro – torna-se fundamental salientar a relevância científica desta coorte que vai permitir retratar a realidade da extrema prematuridade no nosso país. A equipa de investigadores portugueses tem realizado o seguimento destas crianças nos primeiros anos de vida, no sentido de compreender o efeito das práticas médicas e das políticas de intervenção nesta área, bem como avaliar a saúde e o desenvolvimento destas crianças, com base em informações reportadas pelos pais.

Entre 1 de junho de 2011 e 31 de maio de 2012 foi possível identificar 724 nados-vivos (produto da fecundação que manifesta sinais de vida após a expulsão ou extração do corpo materno) em Portugal, sendo que 84% tiveram alta hospitalar. 544 famílias aceitaram o desafio de continuarem a ser acompanhadas. Até ao momento foram já realizadas duas avaliações, aos 12 e aos 24 meses, tendo sido avaliadas mais de 400 crianças. Atualmente está a decorrer a terceira fase de seguimento aos 3 anos de idade.

Os resultados preliminares da primeira coorte de recém-nascidos muito pré-termo em Portugal concluem ainda que, aos dois anos de idade, 6% das crianças toma medicação para a asma diariamente e aproximadamente 20% toma qualquer outro tipo de medicação regularmente. 9% das crianças tem problemas visuais e apenas 1% apresenta problemas auditivos. 89% das crianças já caminha bem aos dois anos de idade, sendo que 4% necessita de algum tipo de equipamento especial (por exemplo, botas ortopédicas). 2% das crianças tem diagnóstico médico de paralisia cerebral. Quanto ao desenvolvimento da linguagem, 85% das crianças diz pelo menos 50 palavras e 79% já começou a combinar palavras em pequenas frases, por exemplo “mamã foi embora”. A maioria dos pais (93%) considera que os seus filhos estão a crescer normalmente aos 2 anos de idade.

Atualmente há 15 milhões de bebés prematuros em todo o mundo. Em Portugal, a estatística aponta para oito em cada 100, sendo que 1% nasce com menos de 32 semanas de idade gestacional. Apesar dos extraordinários avanços verificados nos últimos anos, é entre os muito pré-termo que se observa cerca de 60% da mortalidade neonatal e se verifica maior risco de sequelas a curto e a médio prazo (distúrbios do desenvolvimento, como atrasos cognitivos, perturbações da linguagem, paralisia cerebral, dificuldades de coordenação e equilíbrio, défices visuais e auditivos). Com efeito, estes recém-nascidos requerem cuidados especializados, planeados e executados com grande competência e com sólida base científica.

O EPICE iniciou-se em 2011 e decorre simultaneamente em 11 países europeus. Em Portugal, a coordenação do projeto é da responsabilidade do Departamento de Epidemiologia Clínica, Medicina Preditiva e Saúde Pública da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), em parceria com o Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP). Integram o projeto EPICE 30 unidades hospitalares da Região Norte e de Lisboa e Vale do Tejo.