Investigação foi liderada por Joana Maia Dias, investigadora do LEPABE da FEUP, (Foto: DR)

Um estudo realizado por um grupo de investigadores do Laboratório de Engenharia de Processos, Ambiente, Biotecnologia e Energia (LEPABE) da Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP), liderado por Joana Maia Dias e publicado em 2017 na Revista Renewable Energy, da Elsevier, foi reconhecido pela Renewable Energy Global Innovations como um Key Scientific Article.

Esta revista científica, que dissemina resultados de investigação considerada de excelência, destaca o estudo do LEPABE que teve por objetivo a definição de uma rota enzimática para viabilizar a utilização de óleos de elevada acidez, resultantes de um produto residual da refinação dos óleos vegetais para a produção de produtos de elevado valor para a indústria dos biocombustíveis.

O tema assume particular importância dado que a utilização de combustíveis fósseis e seus derivados é uma realidade – particularmente no setor dos transportes – onde em muitos países a dependência externa é elevada. Torna-se assim premente o desenvolvimento de tecnologias alternativas e sustentáveis, que permitam a redução da poluição ambiental associada à sua exploração, particularmente a emissão de gases de efeito de estufa. De acordo com diretrizes internacionais, o mundo terá de abdicar dos combustíveis fósseis nas próximas décadas para evitar um aumento da temperatura global acima de 2ºC – considerado incomportável. Para tal, as emissões mundiais de CO2 terão de baixar de 40% a 70% até 2050 e chegar a zero até 2100, segundo o Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC) da ONU. Assim, para contrariar esta tendência, e integrando a estratégia Europeia, tem-se apostado fortemente nos biocombustíveis.

Estes biocombustíveis, como o biodiesel, são fundamentalmente produzidos a partir de recursos alimentares, pelo que o desenvolvimento de processos que permitam a utilização de fontes residuais se torna imperativo para tornar a sua produção mais sustentável. Efetivamente, a utilização de óleos residuais assume-se mais difícil porque têm disponibilidade mais reduzida ou muito baixa qualidade para integrar o normal processo, sobretudo no caso do biodiesel, devido à elevada acidez que impede a utilização da reação química de transesterificação alcalina homogénea, tradicionalmente usada na indústria.

As pastas de neutralização são um resíduo abundante que resulta do processo de refinação dos óleos vegetais (da sua neutralização). O óleo ácido resultante do tratamento destes resíduos é uma matéria-prima de interesse para a produção de biodiesel. Contudo, para efetivar a sua integração na indústria atual, é necessário utilizar processos ou tecnologias complementares.

E isso leva-nos ao estudo liderado por Joana Maia Dias do LEPABE que avaliou a utilização de um processo biocatalítico (esterificação enzimática) para converter os ácidos aí existentes em biocombustível. Neste estudo os investigadores avaliaram, em particular, a influência da concentração da enzima na conversão dos ácidos tendo estabelecido condições reacionais para o processo se realizar garantindo uma redução de 80% da acidez do óleo.

Na opinião de Joana Maia Dias, investigadora do LEPABE da FEUP, os resultados agora alcançados são importantes porque “embora se pretenda o desenvolvimento e otimização deste processo no grupo de investigação, não há dúvida que a sua aplicação se vê demonstrada com sucesso. Considero que esta tecnologia apresenta o potencial e a versatilidade necessária para integração na indústria atual dos biocombustíveis, permitindo num futuro próximo a sua produção mais sustentável”.

O estudo, enquadrado no projeto LEPABE-2-ECO-INNOVATION , financiado pelo Norte2020,  pode ser consultado aqui.