Estima-se que em Portugal ocorram cerca de 10000 fraturas do fémur proximal por ano, em indivíduos acima dos 50 anos”. (Foto: DR)

Especialistas nacionais e internacionais nas áreas de epidemiologia, da estatística, da biologia e da medicina vão estar nos próximos dias dias 16 e 17  de dezembro, no Porto, para debater as fraturas do fémur proximal (FFP), um problema de saúde pública extremamente frequente em idosos e que conduz a situações de incapacidade funcional e até mesmo à morte.

Coordenada pelo Instituto de Engenharia Biomédica (INEB), em colaboração com o Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), esta reunião pretende funcionar como fórum de discussão para temas relacionados com as FFP. Entre os assuntos que serão debatidos destacam-se os novos métodos de modelação estatística em epidemiologia, as vantagens e limitações do uso de dados secundários em estudos epidemiológicos, a saúde do osso e o impacto da crise económica na incidência das fraturas do fémur, bem como propostas de prevenção de quedas.

Segundo Fátima Pina, investigadora do INEB e docente da Faculdade de Medicina da U.Porto (FMUP), ocorrem em Portugal “cerca de 10000 fraturas do fémur proximal por ano, em indivíduos acima dos 50 anos”. Os dados indicam que cerca de 90% destas fraturas são consequência de quedas, das quais 80% ocorrem em casa por causas evitáveis, por exemplo escorregões, tropeções, desequilíbrios. “Os custos diretos e indiretos do tratamento e recuperação após uma fratura do fémur são muito elevados e têm impacto não só nos indivíduos, mas também nas famílias e na sociedade”, alerta a investigadora.

Segundo cálculos recentes, o custo médio do tratamento hospitalar de um doente com FFP é de 5 mil euros euros e a letalidade e morbilidade associadas são muito elevados. Um estudo realizado pelo grupo coordenado por Fátima Pina a 252 indivíduos internados no Hospital São João com este tipo de fratura revelou que a letalidade, ao fim de um ano da ocorrência, era de 37% nos homens e 23% nas mulheres. Nos sobreviventes, a perda de qualidade de vida e de anos saudáveis é também muito evidente, já que, como explica a investigadora, “das pessoas com plena autonomia antes da fratura, volvido um ano de recuperação, apenas 41% conseguiu readquirir autonomia”. Os demais ou estavam em casas de repouso ou a morar com familiares, sendo que apenas 16% caminhava sem ajuda e que14% continuavam acamados.

Ainda que a osteoporose seja um importante fator de risco para as FFP, uma vez que está associada à perda de massa óssea e consequente fragilidade do esqueleto, “as quedas são, na verdade, o maior fator de risco e prevenir as quedas pode ser a maneira mais eficiente na prevenção deste tipo de fraturas”, esclarece Fátima Pina,  Sabe-se que em populações onde foram implementadas campanhas de prevenção de quedas observou-se uma redução entre 20% a 40% das FFP, impacto superior e com menores custos do que aquele conseguido com a prevenção da osteoporose por via de medicamentos. No entanto, inquéritos que realizados a idosos em Portugal mostraram que mais de 90% nunca tinham recebido informações sobre prevenção de quedas, mesmo aqueles que estavam hospitalizados com uma fratura do fémur.

Estes e outros números marcarão então um encontro de especialistas que assinala também o encerramento de um projeto financiado pela FCT para investigação epidemiológica nesta área. De acordo com Fátima Pina, a equipa da U.Porto envolvida nesta investigação “está a traçar outras rotas de ação mais alargadas, estando inserida na equipa de prevenção de quedas da Rede Europeia de Inovação para o Envelhecimento Activo e Saudável”. E adianta que, “tendo em conta os desafios propostos para o Horizonte 2020, temos um contributo muito importante a dar na consolidação de uma Europa de bem estar”.