Manuel António Campos demonstrou que as mutações de uma enzima designada como tolemorase estão associadas a um mau prognóstico no carcinoma espinocelular. (Foto: i3S)

O investigador do i3S – Instituto de investigação e Inovação em Saúde, Universidade do Porto e dermatologista Manuel António Campos publicou recentemente um artigo no prestigiado Journal of the American Academy of Dermatology no qual demonstra que as mutações de uma enzima designada como tolemorase estão associadas a um mau prognóstico no carcinoma espinocelular, o segundo cancro de pele mais comum. Estes resultados são pioneiros, não só porque é a primeira vez que se estabelece esta relação, mas também porque poderão dar origem aos primeiros marcadores genéticos de prognóstico, que permitirão determinar a agressividade e como tratar estes carcinomas. Sublinhe-se que estes carcinomas, em caso de recidiva e/ou metastização, têm uma grande mortalidade.

O trabalho foi publicado na edição de março de 2019 da  revista com o maior fator de impacto em Dermatologia e teve honras de editorial. Nesta nota da direção da revista é sublinhada a necessidade de se encontrarem marcadores de prognóstico na Dermatologia, sendo que as «mutações do promotor da telomerase se evidenciaram como principal candidato». Refira-se ainda que a última vez que um investigador português (o dermatologista Osvaldo Correia) publicou um artigo original nesta revista foi há 17 anos.

Imagem de um carcinoma espinocelular invasor. (Foto: DR)

Este projeto de investigação foi desenvolvido no âmbito da tese de doutoramento de Manuel António Campos, sob orientação dos investigadores do i3S Paula Soares e José Manuel Lopes, e analisou 152 carcinomas espinocelulares provenientes de 122 pacientes tratados no Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia e Espinho. O objetivo era determinar a presença das mutações do promotor da telomerase e correlacionar a sua presença com fatores de prognóstico.

O estudo, explica Manuel António Campos, «demonstrou que as mutações do promotor da telomerase estavam presentes em 31,6% dos casos, sendo a taxa de mutação superior em carcinomas invasores (34,7%) do que em carcinomas in situ (19,4%), e que os tumores que sofreram recidiva (76,5%) e/ou metástases (87,5%) eram mais frequentemente mutados». Estas mutações, acrescenta, «revelaram-se também como preditores independentes de recidiva e de metástase, estando associado a um risco oito vezes superior de recidiva e 16 vezes superior de metástase ganglionar.

Segundo o dermatologista, tal como aconteceu noutros modelos (por exemplo melanoma, carcinomas da tiróide ou tumores do sistema nervoso central), «as mutações do promotor da telomerase poderão tornar-se no primeiro marcador genético de prognóstico e serem incluídas em guidelines internacionais para estadiamento e tratamento destes carcinomas».

Este trabalho já foi distinguido pela Sociedade Portuguesa de Dermatologia e Venereologia (SPDV), com um prémio de 15 mil euros e conquistou também o prémio de melhor comunicação oral na Reunião da Primavera da SPDV.