Após as enormes perdas nas populações de coelho-bravo, a mixomatose atinge agora as lebres da Península Ibérica (Lepus granatensis). (Foto: Pedro Moreira)

Num artigo publicado pela prestigiada revista Viruses, uma equipa internacional liderada pelos investigadores do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto (CIBIO-InBIO) Ana Águeda-Pinto e Pedro Esteves identifica uma nova linhagem do vírus da mixomatose, responsável pela vaga de mortes que atingiu recentemente as lebres ibéricas.

No artigo agora publicado, a equipa composta por investigadores do CIBIO-InBIO, e de mais duas instituições internacionais, analisou o genoma completo de amostras do vírus encontrado em lebres Ibéricas que apresentavam sintomas de mixomatose. Os investigadores confirmaram tratar-se de uma nova linhagem do vírus da doença que já tinha provocado enormes perdas nas populações de coelho-bravo. Esta nova linhagem apresenta alterações genéticas únicas e que poderão conferir ao vírus a capacidade de “quebrar” a resistência das lebres à doença.

A mixomatose é uma doença provocada pelo Mixoma, um vírus pertencente ao grupo dos poxvírus e cujo genoma é composto de ADN. No seu hospedeiro natural, o coelho americano (Sylvilagus sp.), este vírus apenas causa uma doença benigna. Por outro lado, no coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus) a mixomatose é mortal.

Lebre ibérica com sintomas – inflamação das pálpebras e conjuntivite – compatíveis com a mixomatose. (Foto: Ana Águeda-Pinto)

Até há muito pouco tempo, pensava-se que a mixomatose estava restrita ao coelho-bravo, havendo apenas descrições muito pontuais da doença em lebres. No ano passado, contudo, a situação alterou-se significativamente com a descrição de vários surtos de mixomatose nas lebres ibéricas (Lepus granatensis). “Quisemos investigar se o vírus causador destes casos de mixomatose em lebres ibéricas era o mesmo causador da mixomatose em coelhos”, conforme explica o investigador do CIBIO-InBIO Pedro Esteves.

Uma nova estirpe da doença

Os resultados deste estudo indicam que o vírus causador da doença na lebre Ibérica constitui uma nova estirpe do vírus Mixoma. Esta linhagem apresenta no seu ADN alterações genéticas únicas, entre elas a inserção de uma porção de genoma de outro poxvírus não identificado até ao momento.

Segundo Ana Águeda-Pinto, primeira autora do artigo e investigadora do CIBIO-InBIO, “o novo vírus terá sofrido várias alterações genéticas as quais lhe terão permitido quebrar as barreiras que impediam que o vírus do mixoma afectasse as lebres. Embora todas as evidências apontem para esse sentido, não podemos confirmar esta hipótese. Para isso será preciso investigar qual a relevância destas alterações genéticas na infeção do vírus nas lebres”.

Os resultados deste estudo trazem informações importantes pois mostram que as populações ibéricas de lebre poderão estar perante uma nova estirpe do vírus mixoma, capaz de causar consequências dramáticas para as populações naturais de lebre ibérica.