A intervenção psicoterapêutica realizada por enfermeiros especialistas em Saúde Mental, aliada à farmacoterapia, é significativamente mais eficaz a reduzir os níveis de ansiedade e a promover o seu autocontrolo em pessoas com ansiedade patológica quando comparada com o tratamento apenas com medicamentos.

A conclusão surge num estudo agora publicado no Journal of Advanced Nursing, da autoria de um grupo de investigadores do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, Unidade de I&D da Universidade do Porto, que inclui Francisco Sampaio (primeiro autor), Odete Araújo, Teresa Martins e Carlos Sequeira.

Neste estudo, realizado entre 2016 e 2017, pretendia-se avaliar a eficácia da intervenção psicoterapêutica de Enfermagem em adultos portugueses entre os 18 e os 64 anos de idade com ansiedade – enquanto sintoma – em níveis patológicos, comparando para tal um grupo de pessoas tratado apenas com fármacos com outro grupo tratado com fármacos e com intervenção psicoterapêutica.

Os resultados indicam um “efeito positivo da intervenção psicoterapêutica em contexto de Enfermagem”, realizada por um enfermeiro especialista em Saúde Mental, registando-se uma clara diminuição dos níveis de ansiedade e um aumento do autocontrolo da ansiedade no final das cinco sessões (45 a 60 minutos/semana) realizadas em cinco semanas consecutivas.

Os indivíduos que receberam apenas farmacoterapia melhoraram a ansiedade, mas não melhoraram o seu autocontrolo, enquanto os que receberam farmacoterapia e intervenção psicoterapêutica melhoraram mais significativamente os níveis de ansiedade e melhoraram também significativamente o autocontrolo da ansiedade. “Isto é fundamental porque, se as pessoas não adquirem estratégias de autocontrolo, no futuro não serão capazes de lidar com a mesma sem o recurso a fármacos”, afirma Francisco Sampaio, investigador do CINTESIS que está a concluir o doutoramento no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto (ICBAS).

Segundo o investigador, estes dados reforçam a importância do recurso à intervenção psicoterapêutica como complemento do tratamento e devem ser apresentados aos decisores políticos como uma evidência científica que justifica as intervenções psicoterapêuticas como uma prática autónoma na Enfermagem de Saúde Mental.

O investigador do CINTESIS, que é também enfermeiro no Serviço de Psiquiatria do Hospital de Braga e assistente convidado da Escola Superior de Enfermagem do Porto (ESEP), acrescenta que a intervenção psicoterapêutica deve ser incluída no ensino da Enfermagem, de modo que os enfermeiros possam sistematizar a sua prática num futuro próximo.

Francisco Sampaio espera agora continuar a investigar nesta mesma linha, aplicando o mesmo modelo de intervenção em pessoas com outros diagnósticos na área da Saúde Mental, como défice no controlo de impulsos ou diminuição da vontade de viver, por exemplo.

Dados de 2013 indicam que as Perturbações da Ansiedade afetam 16,5% dos portugueses. Enquanto sintoma, a ansiedade patológica é muito frequente nas perturbações depressivas, que afetam 7,9% dos portugueses. Feitas as contas, calcula-se que cerca de um quarto da população tenha ansiedade em níveis patológicos, um número que, ainda assim, pode estar “subestimado”.