O estudo assinado por investigadores do ISPUP avaliou 458 mulheres pertencentes a uma coorte de doentes do IPO-Porto. (Imagem: Pexels)

As mulheres com diagnóstico de cancro da mama, que tenham sintomas de ansiedade e depressão antes de iniciarem os tratamentos, têm pior qualidade do sono durante os três anos após o diagnóstico de cancro. Assim descreve um estudo desenvolvido por investigadores do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), que avaliou as trajetórias da qualidade do sono de 458 mulheres durante os três primeiros anos após o diagnóstico de cancro da mama.

“Sabe-se que a qualidade do sono é um importante preditor da qualidade de vida das doentes e é também sabido que as mulheres com cancro da mama apresentam uma prevalência de problemas do sono muito superior à da restante população. No entanto, existiam poucos estudos que avaliassem a qualidade do sono destas doentes antes do início dos tratamentos para o cancro, pelo que existia pouca informação sobre o momento em que surgiam estes problemas: se já estavam presentes antes do início dos tratamentos ou se surgiam como consequência destes”, refere Filipa Fontes, primeira autora do estudo.

O estudo envolveu 458 mulheres que fazem parte de uma coorte de doentes do Instituto Português de Oncologia do Porto (IPO-Porto), diagnosticadas com cancro da mama e seguidas prospectivamente até três anos após o diagnóstico. As mulheres foram avaliadas em três momentos: após o diagnóstico mas antes de iniciarem os tratamentos, e um e três anos após inclusão no estudo.

O objetivo da investigação consistiu em estudar as diferentes trajetórias da qualidade do sono nos três primeiros anos após o diagnóstico do cancro.

Foram identificadas três trajetórias diferentes de qualidade do sono. Uma das trajetórias distingue-se claramente das outras, na medida em que as doentes apresentaram boa qualidade do sono durante todo o período em análise. Nas outras duas trajetórias as mulheres apresentaram má qualidade do sono durante os três anos, apesar de numa delas ter ocorrido melhoria e na outra deterioração da qualidade do sono durante o primeiro ano após o diagnóstico.

De notar que as mulheres com trajetórias de pior qualidade do sono apresentavam mais frequentemente sintomas de ansiedade e depressão antes do início dos tratamentos, em comparação com aquelas que apresentaram melhor qualidade do sono durante os 3 anos.

“Com este estudo, conseguimos perceber que existe um grande número de doentes com cancro da mama que têm problemas do sono antes de iniciarem os tratamentos. É, portanto, importante desenvolver estratégias para identificar precocemente estas mulheres e melhorar a sua qualidade do sono, e em geral a sua qualidade de vida”, conclui Filipa Fontes.

O estudo intitulado “Trajectories of sleep quality during the first three years after breast cancer diagnosis” foi publicado na revista “Sleep Medicine”, sendo também assinado por Milton Severo, Marta Gonçalves, Susana Pereira e Nuno Lunet.