Um dos 88 desenhos das crianças portuguesas, sorteado para ir para o espaço com a missão CHEOPS. Crédito: Ana Amélia Patacho (12 anos)

Um dos 88 desenhos das crianças portuguesas, sorteado para ir para o espaço com a missão CHEOPS.

A Agência Espacial Europeia (ESA) vai lançar para o espaço em 2018 o telescópio espacial CHEOPS, que terá como missão observar planetas em torno de estrelas distantes. E não vai estar “sozinho”. Como o satélite tem o tamanho de um pequeno automóvel, a ESA resolveu decorar algumas das paredes vazias com três mil desenhos de crianças europeias, entre os 8 e os 14 anos, resultado de um concurso que contou com a participação do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) e do Planetário do Porto – Centro Ciência Viva.

Ao edifício do Planetário do Porto chegaram 812 desenhos de crianças portuguesas, dos quais foram selecionados 88, de modo a preencher a cota atribuída a Portugal. “Para o Planetário do Porto, a possibilidade de participar numa iniciativa destas é muito gratificante. Como sempre, trabalhar em grande proximidade com os colegas investigadores do IA potenciou a nossa participação enquanto membro do consórcio”, explica Filipe Pires (IA e Planetário do Porto), ponto de contacto nacional para o Desafio CHEOPS.

“Passámos para o público a ideia que estamos a contribuir para uma missão importante, na linha da frente da investigação na área. E no final, ficamos bastante surpreendidos com o número tão elevado de desenhos que recebemos”, acrescenta o responsável.

Os três mil desenhos escolhidos podem ser visualizados no site produzido pela Universidade de Berna, coorganizadora do desafio. Os 88 desenhos das crianças portuguesas  podem ser vistos diretamente aqui.  Os desenhos que não foram selecionados estão também disponíveis aqui.

Durante os próximos seis meses, a equipa de informática aplicada da U.Berna vai miniaturizar os três mil desenhos, para de seguida os gravar em duas placas metálicas. Estas placas serão acopladas ao CHEOPS alguns meses antes do lançamento, previsto para a Primavera de 2018.

O satélite CHEOPS é um telescópio espacial com 32 cm de diâmetro, que estará em órbita da Terra para observar planetas em torno de estrelas distantes. Mas o CHEOPS não consegue ver diretamente estes exoplanetas, recorrendo ao método dos trânsitos para os detetar.

Esta será a maior participação técnica e científica de Portugal numa missão espacial do programa científico da ESA, que tem como parceiros nacionais o Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) e a Deimos Engenharia. Segundo Sérgio Sousa, (IA e Universidade do Porto), um dos investigadores envolvidos na missão, “o CHEOPS,  vai permitir caracterizar com uma precisão sem precedentes alguns dos exoplanetas descobertos mais interessantes. Os investigadores do IA participam no desenvolvimento da missão, estando mesmo responsáveis por parte da redução dos dados, além de terem também uma importante contribuição na equipa científica do CHEOPS.”

Para além de medições extremamente rigorosas do brilho das estrelas, será necessária uma complexa cadeia de cálculos – que ficarão a cargo do IA – até ser possível poder obter medições que permitam inferir a composição e habitabilidade desses planetas.

São 500 os alvos a serem observados e a missão durará apenas 3,5 anos, uma limitação imposta pelo combustível. Por isso, a calendarização de forma dinâmica dos pedidos de observação de todas equipas mundiais é um grande desafio. É necessário compatibilizá-los com a disponibilidade técnica do instrumento e com a órbita do satélite (que só pode observar quando está na sombra da Terra), de forma a gastar o mínimo de combustível. Por isso é necessário um sistema de planificação muito avançado, que será o cérebro do Science Operation Centre – e que está a ser desenvolvido em Portugal pela Deimos Engenharia.

Sobre o IA

Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço é (IA) é uma estrutura de investigação criada em 2014, em resultado da fusão entre as duas unidades de investigação mais proeminentes no campo em Portugal: o Centro de Astrofísica da Universidade do Porto (CAUP) e o Centro de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Lisboa (CAAUL). Atualmente engloba a maioria da produção científica nacional na área, tendo sido avaliado como “Excelente” na última avaliação que a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) encomendou à European Science Foundation (ESF).