Dados do estudo sugerem que estatuto socioeconómico deve ser considerado como mais um fator de risco com impacto na mortalidade.

As condições socioeconómicas desfavoráveis contribuem para a redução, em média, de 2,1 anos da vida de um indivíduo.

Esta é uma das principais conclusões de um estudo inédito publicado na Revista “Lancet”, no âmbito do projeto LIFETAPH, um projeto europeu financiado pela Comissão Europeia que tem por objetivo investigar os mecanismos biológicos através dos quais as desigualdades sociais conduzem às desigualdades em saúde, e no qual participam dois investigadores do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) – Henrique Barros e Sílvia Fraga.

O estudo revela ainda que, para além das condições socioeconómicas, outros fatores têm uma influência mensurável na redução da esperança de vida da população. O tabaco está associado a uma redução de 4,8 anos de vida; a diabetes a 3,9; e a atividade física a 2,4. Assim sendo, o estudo mostra que, a par destes, o estatuto socioeconómico deve ser considerado como mais um fator de risco com impacto na mortalidade.

Uma vez que as condições socioeconómicas são um fator modificável, os investigadores consideram que este deve ser incluído na lista de fatores de risco que são o alvo da estratégia “25×25”, da Organização Mundial de Saúde, o qual pretende reduzir a mortalidade em 25% até 2025.

Neste estudo, os investigadores do consórcio LIFEPATH reuniram e analisaram informação de 48 coortes populacionais (grupos de indivíduos estudados ao longo do tempo), o que corresponde a 1,7 milhões de adultos do Reino Unido, Itália, Estados Unidos, Austrália, Suíça, França e Portugal. Os dados provenientes de Portugal foram recolhidos da coorte EPIPorto, uma estrutura de investigação coordenada pelo ISPUP, que tem acompanhado 2485 pessoas da cidade do Porto.

“Esta investigação, com um contributo muito relevante das coortes populacionais do Porto, mostra como é limitado o impacto das estratégias tradicionais para compreender e prevenir as doenças, com base em fatores biológicos. Não basta esperar que as potenciais vítimas modifiquem as suas escolhas e estilos de vida, que na maior parte dos casos nem sequer podem controlar. A verdade é que a saúde e a ocorrência das principais causas de morte está fortemente dependente da posição social e económica, e dos contextos em que se gera a resposta biológica à adversidade. Esses, só se modificam com o esforço organizado de toda a sociedade, numa atividade coordenada da saúde pública com os serviços sociais, no que potenciam muito para além das possíveis escolhas individuais”, refere Henrique Barros, um dos principais investigadores do estudo.