Só nos últimos 5 anos, foram registados cerca de 90 mil episódios de cancro da pele nos hospitais públicos portugueses. (Foto: DR)

É preciso investir mais na prevenção do cancro da pele em Portugal. A conclusão é de um estudo da autoria de investigadores do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, publicado no jornal “Cancer Epidemiology”.

De acordo com este trabalho, registaram-se cerca de 90 mil episódios hospitalares de cancro da pele nos hospitais públicos portugueses ao longo de cinco anos, dos quais cerca de 16 mil eram melanomas e os restantes 72 mil eram não-melanomas.

Os investigadores avaliaram todos os casos de internamentos e consultas em ambulatório ocorridas no Serviço Nacional de Saúde entre 2011 e 2015 em que existia um diagnóstico de cancro da pele. O objetivo era determinar a localização mais comum das lesões, a ocorrência de metástases, a mortalidade e também os custos hospitalares associados à doença.

Os doentes com melanoma têm uma idade mediana mais baixa (66 anos) e mais metástases (14% dos casos), sendo o tronco a zona do corpo mais afetada (32%). Já os doentes com cancro da pele não-melanoma são em geral mais velhos (76 anos) e apresentam uma mortalidade mais baixa, embora fiquem mais tempo internados (9 dias em média contra 7,3) e os custos sejam, em média, mais elevados (2563 euros contra 2417 euros por cada hospitalização).

Se considerarmos apenas as hospitalizações, o melanoma foi responsável por mais de 35 mil dias de internamento, enquanto o cancro da pele não melanoma totalizou mais de 73 mil dias de internamento. Por ano, o melanoma custa 3.8 milhões de euros, ao passo que o não-melanoma tem custos da ordem dos 16.2 milhões de euros, isto é, cerca de quatro vezes mais.

“Nós fazemos uma estimativa dos custos hospitalares do cancro da pele em Portugal, mas estes números estão provavelmente subestimados, uma vez que não são contabilizados os episódios ocorridos em instituições de saúde privadas. Sabe-se que, com listas de espera que ultrapassam um ano no SNS, os doentes com recursos financeiros ou com seguro de saúde procuram cada vez mais o setor privado. A isto acresce que a maioria dos cancros não melanoma não são tumores de risco e podem ser tratados eficazmente fora do setor público”, explica Ana Filipa Duarte, investigadora do CINTESIS/Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e primeira autora do estudo.

A dermatologista avisa que, com o envelhecimento da população e os comportamentos de risco conhecidos, os casos de cancro da pele tendem a aumentar, bem como os seus custos. De facto, com a introdução de novos tratamentos, sobe não só a taxa de sucesso, mas também a despesa associada.

Para a responsável, é por isso essencial “apostar em estratégias de prevenção primária do cancro da pele e numa deteção precoce dos casos de cancro”, no sentido de reduzir a mortalidade e os custos que a doença acarreta.

As campanhas de prevenção não podem, porém, “subestimar a importância do cancro da pele não melanoma”, quer em termos do seu impacto no sistema de saúde, quer dos seus custos, muito superiores em média aos do melanoma, quer da qualidade de vida dos doentes.

Os autores esperam que este estudo possa contribuir para uma maior consciencialização em torno da importância do cancro da pele enquanto problema de saúde pública e permitir, assim, a tomada de “decisões políticas assertivas” na área da prevenção.

Além de Ana Filipa Duarte, assinam esta investigação Bernardo Sousa Pinto, Alberto Freitas, Luís Delgado, Altamiro da Costa Pereira e Osvaldo Correia.